Rangel Alves da
Costa*
Agora,
neste exato momento, o segundo avança e o tempo já não é mais aquele de um
segundo atrás. Eis o calendário de tudo, um grão, poeira e pó na mais voraz
ventania.
Eis que
agora tanto e tudo acontece. O tempo não para, já disse o poeta. E acontece, e
corre, e não se cansa de acontecer. Basta o instante da letra e algo
acontecendo, e agora já acontecido.
Muita
coisa aconteceu no tempo da escrita do parágrafo acima. Eis que os
acontecimentos inesperados não surgem com hora marcada. Também a normalidade da
vida é feita numa sequência de instantâneos.
Não
importa o que já passou no segundo atrás. Por mais que o imaginário se ponha a
presumir, ainda assim jamais alcançará um centésimo daquilo já ocorrido. Talvez
restem as consequências, mas já passado, ainda que há um segundo. Três agora.
O que
importa é o agora, o momento presente, o já. Sim, este instante do teclado, do
pensamento, da escrita. Sim, neste exato momento o inimaginável ocorre nas
proximidades ou na mais longínqua das distâncias.
Aqui uma
coisa, ali outra, mais adiante uma bem diferente, mas tudo ocorrendo,
acontecendo. Nada estático, parado, esperando o instante seguinte. Tudo
apressado, avançando, rompendo o momento. Sendo.
Eis que a
morte pode ensaiar seu instante a vida inteira; uma enfermidade se prolongar
pelo corpo; a fraqueza ir se acumulando dia após dia; o sopro de vida se
tornando cada vez mais a brisa em viagem. Porém há um instante fatal. Único.
Eis que a
vida humana caminha em percurso desde a concepção. A semente no útero, a
gestação, o desenvolvimento até o nascimento. Já há vida, já há pulsação, já há
um ser humano, mas falta nascer, vir ao mundo. E haverá um instante que o choro
será ouvido.
Eis que
daí em diante, na normalidade das coisas, há um período de infância, de
adolescência, de maturidade e de velhice. Ou de outra criancice. Mas cada passo
nessa estrada não está representado nem pelo tempo no relógio ou do calendário
ou pelos dias vividos, e sim no pulsar da própria existência.
O ser
humano vive, mesmo imperceptivelmente, em constante mutação, agindo e se
transformando. O pensamento, a ação, o passo, o fazer, tudo faz parte de um
processo que no todo se chama vida. Daí a importância do instante de tudo, do
tocar, do olhar, do perceber, do agir.
Tudo muda,
mas a partir do instante. E tudo não passa de uma conjunção de instantes. O
todo, porém, depende da ação num determinado instante, quando tudo poderá
passar a ter outro norteamento. O que haveria de ser, de repente já não mais
será.
Que
ninguém duvide: o instante é decisivo em tudo; é o momento primordial. Ele não
só se perfaz no seu próprio instante, como permite o instante seguinte. Não há,
pois, garantia de momento posterior, vez que tantas vezes ocorrer ser o último
da existência.
Daí a
importância deste momento, do já, do agora. Neste instante escrevo, firmo esta
palavra. Neste momento a lua daqui está escondida noutro lugar; a noite
ensolarada de agora talvez esteja chuvosa noutro local; tanto calor aqui e
tanto frio ali; há alguém acordando e outros querendo adormecer.
Sim,
alguém nascendo agora; alguém morrendo agora. Agora também, no exato instante,
um choro de criança e um choro de dolorosa despedida; o instante de um gatilho
apertado, de um cometa se despedaçando, de uma onda batendo na pedra do cais.
Alguém diz
sim, alguém diz não; uma mão sobe aos olhos para limpar a lágrima, um sorriso
numa boca. O instante do beijo. Pessoas estão se beijando agora. E tantos
lábios ressequidos de solidão.
Eis o
instante. Aqui uma saudade. E em você?
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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