Rangel Alves da
Costa*
Há uma
estação além das quatro comumente conhecidas. As estações do ano não se resumem
apenas ao reflorescimento da primavera, ao calor do outono, às folhas
entristecidas do outono nem ao tempo friorento do inverno, mas também ao
sentimentalismo da solitude.
O nome
dessa estação foi inspirado na propensão humana ao isolamento para encontrar-se
consigo mesmo. Solitude, pois, é a solidão voluntária, aquela que é buscada e
desejada pela própria pessoa. É opção intimista, vez que se afasta para
encontrar e dialogar com os próprios sentimentos.
Solitude é
a solidão reflexiva, premeditada, buscada porque a pessoa necessita de momentos
onde possa fazer indagações e encontrar respostas, onde possa abrir as páginas
de seu diário mental e avistar o erro e o acerto. Sai do mundo para encontrar o
seu mundo, recolhe-se para ouvir suas vozes, gritos e silêncios interiores.
E não é
por outro motivo que a solitude é estação que se expressa no íntimo de cada um,
está presente no interior do indivíduo, e através dela é que se permite avistar
a felicidade, o entristecimento ou a melancolia. Não obstante as feições
alegres que possa transmitir, caracteriza-se muito mais por aspectos
nostálgicos e melancólicos emoldurando a pessoa que a vivencia.
A solitude
é, pois a quinta estação. E não consta dos livros nem é objeto de análise em
termos climáticos por um só motivo: diferente das outras, cuja feição é
dependente da localização da terra em relação ao sol, ela é visível de modo
diferenciado em cada pessoa. Assim, a solitude é refletida não na mudança
climática, mas nas transformações pessoais, psicológicas, comportamentais.
Assim, a
solitude é estação que não nasce na atmosfera externa senão na própria
atmosfera da pessoa, intimamente. E por isso mesmo não possui período certo de
surgimento nem de duração, estando mesmo entremeada nas outras estações. Assim,
a solitude pode estar presente durante todo o ano, com maior ou menor
incidência no indivíduo e nos demais períodos climáticos.
Tudo está
bem caracterizado nas outras estações. A dança das borboletas, os jardins
verdejantes, as flores em festa na primavera; a chegada do calor, o sol
brilhando mais forte, um tempo mais iluminado no verão; as árvores
entristecidas, as cores cinzentas e ocres nas folhagens, a passagem triste da
ventania no outono; os trovões e relâmpagos, as chuvaradas e tempestades no
inverno. E como será mesmo na solitude?
Como
afirmado, a estação solitude pode se mostrar com elementos das outras estações
e nos mesmos períodos, mas ela dura o ano inteiro na pessoa. É pessoal,
acompanha o indivíduo, e geralmente é influenciada pela outra estação presente.
Contudo, se afeiçoa mais fielmente às características do outono, pois é reflexiva,
melancólica, com uma leve feição de desencorajamento para o mundo ao redor. Mas
entrega ao seu mundo com avidez.
É estação
permanente, ainda que ninguém perceba sua presença na outra pessoa. Contudo, é
fácil distingui-la. Está pelas janelas mirando o mundo de olhos distantes e
angustiados; está trancada no quarto jogada na cama ou enrolada em lençóis, mas
sempre querendo voar; está no silêncio das tardes e na ventania que açoita o
cabelo; está na face do solitário mirando as cores do entardecer ou do vazio
dos jardins outonais.
Talvez por
isso que não desejem reconhecer a solitude como a quinta estação. Todos temem
ter seus sentimentos reconhecidos e nominados como estação. Mas não podem negar
que vivem segundo as propensões do seu clima espiritual. E é na atmosfera
espiritual que se demonstra a solitude. Eis que as flores da primavera podem
bailar ao redor que a solitude toma o seu espaço no íntimo de cada um.
E tudo tão
perceptível no olhar, na feição de angústia, naquilo que tenta esconder, mas
sempre acaba confessando ao mundo a presença da estação solitude.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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