Rangel Alves da
Costa*
O mês de
dezembro já se apressa para o seu final, muito foi plantado e muito foi
colhido, e na cesta de recolhimento aquilo que foi tão almejado e conseguido e
também as sombras ainda presentes daquilo que não deveria ter acontecido. Mas
aconteceu. E o que fazer agora com os restos dessa estação que se finda, o que
fazer com as folhas secas de 2013?
O ano é
como uma estação que vai ressecando suas folhas até que elas desvaneçam em
dezembro. De tanto serem afetadas pelos mais inusitados acontecimentos, acabam
perdendo a força e, fragilizadas, caem ou são levadas pelo vento. Ao findar o
ano, a árvore já deverá estar totalmente despedida daquilo que tanto floresceu.
Contudo, nem sempre assim acontece, eis que folhas secas insistem em
permanecer. E cabe ao sujeito cuidar de soprar seu destino.
O
florescimento, contudo, não mostra apenas folhagens verdejantes, vistosas,
cheias de seiva e vitalidade. Os aspectos positivos semeados e colhidos no ano
são muitos, porém sem conseguir afastar as indesejadas e sempre perturbadoras
derrotas e desilusões. É, pois, como um arvoredo entremeado de folhas alegres e
tristes que o ano vai se findando para o surgimento de novos frutos.
Como as
conquistas nem sempre chegam a contento e as desilusões entrecortam o caminho
das perspectivas, é normal que o ser humano jogue todas as suas esperanças no
tempo vindouro. E o final de ano serve para refletir sobre as realizações, as
conquistas e perdas, bem como estabelecer metas que serão perseguidas. Mas
antes de tudo há que se desfazer das folhas secas do ano que ainda persistem
nos galhos esturricados do já vivido.
E haverá
de ser assim porque impossível construir o novo, esperar que a árvore do amanhã
frutifique, persistindo ainda a velha feição. A estação do outono exemplifica
todo o esse processo. A natureza verdejante, após muito frutificar e farfalhar,
de repente vai se transformando para o renascimento, para a nova vitalidade.
Mas tudo passando por um melancólico processo de enfraquecimentos,
fragilidades, perdas e adeuses. As folhas secas do outono são os fiéis retratos
dessa perda para a transformação.
Considerando
que as realizações humanas não se prolongam eternamente com a mesma vitalidade,
tanto o positivo como negativo tende à instabilidade ou ao exaurimento com o
passar do tempo. E essa feição de tempo ido, de esgotamento, estará presente a
cada final de ano como uma folha que perdeu a seiva, secou, acinzentou e tende
a cair. Mas nem todos se desfazem das cinzas. Alguns gostam de fazer poesia do
sofrimento e permanecem guarnecendo o peito com folhas mortas.
Permanecem
atrelados ao passado, doloroso ou não, porque os fatos da vida não somem apenas
com um sopro. Nem toda realização humana tem período de validade nem se pode
repentinamente apagar suas consequências, eis que perduram além do próprio
desejo do agente. E quanto mais angustiante e tromentoso for o vivenciado mais
difícil será afastar as suas sombras. Ressecam como as folhas, fraquejam como
as folhas, mas ainda assim permanecem penduradas na árvore do pensamento.
E eis uma
dolorosa indagação humana: o que fazer com as folhas que não possuem mais
serventia, que estão aparentemente mortas, mas continuam tão vivas e presentes
no indivíduo? Ou ainda: Será possível esperar novas folhagens e frutos na
árvore da vida em meio à presença daquilo que já deveria ter sido levado pela
ventania da transformação?
Tudo
depende daquilo que o homem quer para si. Muita gente insiste em se acostumar
com a mesmice e até devotado ao que nenhum proveito lhe trouxe. Nesta situação,
difícil a busca da transformação. Mas também muita gente renova até mesmo a
vitória. Com a persistência dos conquistadores, vão afastando do caminho os
empecilhos e dificuldades, e semeando objetivos onde houver pedras e espinhos.
Neste caso, não haverá lugar para uma só folha seca na árvore desejada para o
amanhã.
Eis que o
amanhã se constrói a partir do hoje e das experiências passadas. Os erros e os
acertos entram na mesma receita da construção de um novo tempo. O grande
segredo está em saber se deverá repetir aquilo que deu errado no passado.
Insistir no exagero é tornar o hidromel em veneno, persistir na imprecaução é
procurar amargor nos melhores sabores da vida. Em tudo a sua medida, o seu
limite.
Mas tudo
depende da força de vontade e das experiências vivenciadas. Quem reconhece o
outono certamente sabe muito bem o significado de suas folhas, até mesmo quando
já levadas pelos ares. Mas quem imagina que tudo é primavera, muito haverá de aprender
a lidar com as folhas secas ao final de cada estação. E chegar à virada de ano
sem ter se deixado também perecer.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
Diria que seu texto é o que todos deveriam ler neste dia!!! reflexão...
Abraço fraterno
Nicinha
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