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sábado, 7 de dezembro de 2013

AS VANTAGENS DE SER POBRE (SE É QUE EXISTEM)


Rangel Alves da Costa*


Nem precisaria indagar sobre as vantagens de ser rico, em contraposição à indagação acerca das vantagens de ser pobre. Ademais, o rico que sempre foi rico não sabe sequer dizer sobre as vantagens de sua situação, vez que jamais conheceu as desvantagens de ser pobre. Diferentemente ocorre com o miserável que faz da imaginação de ser rico um sonho muito além das possibilidades da própria riqueza.
Talvez o sonho de ser rico, e os idílios e devaneios que isto acarreta, seja uma das principais vantagens de ser pobre. Somente o pobre que sonha ser rico tem o direito de imaginar o que quiser quando alcançar a fortuna. E porque geralmente transforma a realidade para se situar na fantasia, logo pretende ter muito além daquilo que pode ser alcançado com a riqueza.
A fortuna possibilita o alcance de quase tudo, desde o materialmente concebido ao luxo desmedido, passando logicamente por uma vida de conforto e despreocupações econômicas, quando permanece estabilizada ou crescente. Disse quase tudo porque coisas existem que a maior fortuna do mundo não pode adquirir através de compra. A cura para enfermidades é exemplo sempre citado.
Mas não é assim que pensa o pobre. Para este, a riqueza é sinônima do vultoso, da exacerbação, da grandiosidade em tudo. Sem falar nas pretensões imaginárias que beiram à pura fantasia. Desse modo, na concepção da pobreza, a fortuna seria a chave dos portais do paraíso e a possibilidade de jamais falar em necessidade ou precisão, como se o poder dispor de coisas e objetos fosse a máxima aspiração do ser humano.
De qualquer modo, o pobre - e pobre mesmo, na mais pura acepção da palavra - sempre imagina que a riqueza possibilita a aquisição de tudo que quiser e quando quiser. O luxo estará ao alcance a qualquer instante, o que a imaginação desejar será conseguido sem ter de fazer conta ou ter preocupação com prestações. É como se a riqueza significasse ainda uma existência apenas para ter e sequer pensar quanto vai custar. Basta querer que a riqueza traz.
Na concepção de riqueza que tem, dificilmente o pobre sustentaria sua fortuna por muito tempo. Logo estaria muito desfalcado se adquirisse tudo aquilo que a pobreza imagina ter quando sonha em riqueza. E não há medida nesse imaginário. Mas talvez revisse sua percepção acaso soubesse que a riqueza também é aquilo que permite apenas sobreviver sem necessidades.
Rever tal percepção implicaria em pensar a riqueza não como forma de ostentação e sim como meio de afastar de si as muitas e contínuas necessidades. Neste sentido, ser rico seria ter o bastante para não viver as preocupações com as contas mínimas a pagar, com a feira para fazer, com tudo aquilo que for da essencialidade a uma digna sobrevivência. Já seria riqueza não mais viver na pobreza da falta de tudo.
Entretanto, o que na maioria das vezes se observa é a pobreza chorando seus males, reclamando da condição quase como um castigo divino e sem pensar em algumas vantagens existentes na sua situação. Por mais contraditório que possa parecer, mas ser pobre possui aspectos positivos e até desejados por muitos ricos. Viver a realidade é um dos aspectos mais contundentes. Um rico dificilmente acostumará com a pobreza, mas o pobre até que gostaria de se arriscar na roda da fortuna.
Como costumeiramente se diz, o pobre descansa sorrindo em travesseiro de pedra enquanto o rico não consegue dormir em cima de pluma. Ora, as preocupações financeiras e econômicas dos ricos são proporcionais às suas fortunas. O pobre deve à mercearia, mas sabe que é honesto e vai honrar com aquele compromisso. De repente, o rico pode amanhecer pobre, enquanto este sabe muito bem o que tem e o que continuará tendo.
Ademais, pauta-se na realidade dizeres como “Sou pobre, mas sou honesto”, “Sou pobre, mas sou limpinho”, “Tenho pouco, mas o que tenho é meu e está sob o manto da honestidade”. Neste aspecto, a probidade do carente é infinitamente superior a de muitos ricos. Não que a riqueza esteja sempre envolta em desonestidade, mas a pobreza se torna angelical diante do submundo dos negócios que tantos ricos fazem despontar.
Contudo, as vantagens de ser pobre são observadas apenas naqueles que se reconhecem na pobreza e não maldizem a vida pela sua condição. Daí surgir uma riqueza espiritual e moral que dificilmente será encontrada naquele que vive na ostentação e na gabolice.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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