Rangel Alves da
Costa*
Nem
precisaria indagar sobre as vantagens de ser rico, em contraposição à indagação
acerca das vantagens de ser pobre. Ademais, o rico que sempre foi rico não sabe
sequer dizer sobre as vantagens de sua situação, vez que jamais conheceu as
desvantagens de ser pobre. Diferentemente ocorre com o miserável que faz da
imaginação de ser rico um sonho muito além das possibilidades da própria
riqueza.
Talvez o
sonho de ser rico, e os idílios e devaneios que isto acarreta, seja uma das
principais vantagens de ser pobre. Somente o pobre que sonha ser rico tem o
direito de imaginar o que quiser quando alcançar a fortuna. E porque geralmente
transforma a realidade para se situar na fantasia, logo pretende ter muito além
daquilo que pode ser alcançado com a riqueza.
A fortuna
possibilita o alcance de quase tudo, desde o materialmente concebido ao luxo
desmedido, passando logicamente por uma vida de conforto e despreocupações
econômicas, quando permanece estabilizada ou crescente. Disse quase tudo porque
coisas existem que a maior fortuna do mundo não pode adquirir através de compra.
A cura para enfermidades é exemplo sempre citado.
Mas não é
assim que pensa o pobre. Para este, a riqueza é sinônima do vultoso, da
exacerbação, da grandiosidade em tudo. Sem falar nas pretensões imaginárias que
beiram à pura fantasia. Desse modo, na concepção da pobreza, a fortuna seria a
chave dos portais do paraíso e a possibilidade de jamais falar em necessidade
ou precisão, como se o poder dispor de coisas e objetos fosse a máxima
aspiração do ser humano.
De
qualquer modo, o pobre - e pobre mesmo, na mais pura acepção da palavra -
sempre imagina que a riqueza possibilita a aquisição de tudo que quiser e
quando quiser. O luxo estará ao alcance a qualquer instante, o que a imaginação
desejar será conseguido sem ter de fazer conta ou ter preocupação com
prestações. É como se a riqueza significasse ainda uma existência apenas para
ter e sequer pensar quanto vai custar. Basta querer que a riqueza traz.
Na
concepção de riqueza que tem, dificilmente o pobre sustentaria sua fortuna por
muito tempo. Logo estaria muito desfalcado se adquirisse tudo aquilo que a
pobreza imagina ter quando sonha em riqueza. E não há medida nesse imaginário.
Mas talvez revisse sua percepção acaso soubesse que a riqueza também é aquilo
que permite apenas sobreviver sem necessidades.
Rever tal
percepção implicaria em pensar a riqueza não como forma de ostentação e sim
como meio de afastar de si as muitas e contínuas necessidades. Neste sentido,
ser rico seria ter o bastante para não viver as preocupações com as contas
mínimas a pagar, com a feira para fazer, com tudo aquilo que for da essencialidade
a uma digna sobrevivência. Já seria riqueza não mais viver na pobreza da falta
de tudo.
Entretanto,
o que na maioria das vezes se observa é a pobreza chorando seus males,
reclamando da condição quase como um castigo divino e sem pensar em algumas
vantagens existentes na sua situação. Por mais contraditório que possa parecer,
mas ser pobre possui aspectos positivos e até desejados por muitos ricos. Viver
a realidade é um dos aspectos mais contundentes. Um rico dificilmente
acostumará com a pobreza, mas o pobre até que gostaria de se arriscar na roda
da fortuna.
Como
costumeiramente se diz, o pobre descansa sorrindo em travesseiro de pedra
enquanto o rico não consegue dormir em cima de pluma. Ora, as preocupações
financeiras e econômicas dos ricos são proporcionais às suas fortunas. O pobre
deve à mercearia, mas sabe que é honesto e vai honrar com aquele compromisso.
De repente, o rico pode amanhecer pobre, enquanto este sabe muito bem o que tem
e o que continuará tendo.
Ademais,
pauta-se na realidade dizeres como “Sou pobre, mas sou honesto”, “Sou pobre,
mas sou limpinho”, “Tenho pouco, mas o que tenho é meu e está sob o manto da
honestidade”. Neste aspecto, a probidade do carente é infinitamente superior a
de muitos ricos. Não que a riqueza esteja sempre envolta em desonestidade, mas
a pobreza se torna angelical diante do submundo dos negócios que tantos ricos
fazem despontar.
Contudo,
as vantagens de ser pobre são observadas apenas naqueles que se reconhecem na
pobreza e não maldizem a vida pela sua condição. Daí surgir uma riqueza
espiritual e moral que dificilmente será encontrada naquele que vive na
ostentação e na gabolice.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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