Rangel Alves da
Costa*
É
costumeiro que escritores escrevam pensando nos possíveis leitores e
visualizando mentalmente, no ato da escrita, algumas possibilidades: a
percepção e compreensão da mensagem, a interação com o que está escrito e,
principalmente, que provoque o impacto necessário para o reconhecimento e o
elogio.
Contudo,
desde algum tempo que venho fugindo desse costume. Atualmente, apenas escrevo,
escrevo e escrevo. Faço do ato da escrita uma condição da própria vida. Jamais
viveria em plenitude se não colocasse em páginas e mais páginas os pensamentos
que me chegam ao acaso ou aqueles aos quais procuro como motivações. E são
muitas.
Hoje faço
isso por mim, intimamente, mas já o fiz pensando somente em agradar ao leitor. Não
nego que já me neguei pensando contentar os pretensos leitores, que já fugi das
minhas características objetivando o outro, que já fui eloquente e acadêmico
demais querendo ser útil ao gosto dos mais exigentes. Mas jamais consegui ser
uma coisa nem outra, nem ser aceito pela maioria dos leitores nem agradá-los.
Segundo
alguns teóricos (e como me desagradam as teorias, os academicismos, a geometria
literária), um texto precisa ter título chamativo para despertar a atenção.
Talvez o conteúdo em si não valha nada, mas basta que a primeira chamada seja
atrativa e certamente alguém sobre ele se debruçará. Tenho certeza que funciona
assim. Mas também não quero ter nos meus textos um leitor apenas de títulos.
Dificilmente
um título provocativo possui adiante o mesmo estímulo, a mesma provocação. Daí
que não me preocupo com intitulações senão com conteúdos. E estes, que antes
eram produzidos para os outros, os leitores, agora basta que me agradem, que
sirvam à minha fruição. Agora escrevo apenas para o meu deleite, a minha
autoapreciação.
Não
adianta escrever para o leitor quando este não dá a mínima para o escrito. Prova
disso está no número de leitores dos meus textos, seja em qualquer site. Por
vezes passo longo tempo escrevendo e reescrevendo um texto para não ser lido
por absolutamente ninguém. Isto ocorre muito no Recanto das Letras. Sou mais
visitado no meu blog (blograngel-sertao.blogspot.com), local muito menos
conhecido, do que em qualquer outro lugar.
Eis que
aquilo que vaidosamente reputo como um texto bonito, bem elaborado, de
agradável leitura, de repente se torna totalmente despercebido. Ora, e se
ninguém arrisca lançar o olhar sobre ele e talvez avistar qualquer qualidade,
simplesmente não há o que fazer. Ademais, tentar conhecer o gosto dos outros é
se perder na receita da impossibilidade. Mas que assim seja.
Escrever
não é tarefa fácil não. Por mais que o escritor já chegue diante da máquina
trazendo na mente uma página completa, ainda assim se esforçará muito para
alcançar algum bom resultado. Fato é que além da ideia ou conteúdo, outros
fatores o colocam numa camisa de força. Muitas vezes está preso à grafia, ao
novo vocabulário e uma série de nuances que até atrapalham o desenvolvimento
livre do texto.
Contudo,
que ninguém sequer imagine que deixarei de escrever. Como afirmado
anteriormente, a escrita é seiva e essência, ânimo em todo o viver. E talvez
até procure redobrar o número de escritos e suas publicações. Só que sem
qualquer compromisso com quem esteja na condição de possível leitor. Escreverei
como alguém que precisa respirar do próprio escrito.
E que
excelente ideia pensar assim. Agora que se dane a gramática e suas estruturas,
as correções gramaticais e seus descabidos contextos; agora que se dane a
métrica literária, a coalizão, regras e tudo o mais. Abro a gaiola de meus
textos e deixo que voem com a liberdade da criação. E povoarei o espaço ao meu
redor com asas de personagens que viviam escondidos, com escritos de terra e
fogo, com o linguajar matuto, com vixe, vosmicê e o escambau.
Serão
escritos para ninguém. Ou quase ninguém, pois sei quem ouve o meu canto e
acolhe o meu cantar do jeito que sou e escrevo.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
2 comentários:
Bom dia! Já tentamos tantas vezes agradar aos outros e preencher expectativas alheias... que escrever agrade a nós mesmos. Bom Natal!
Caro Rangel: Não sei os demais leitores do seu blog, mas, confesso-lhe que todas suas crônicas e artigos publicados estão salvos em meu HD, e aqueles que dizem respeito ao cangaço, além de salvos, são transformados em cópias e encadernados para meu trabalho de pesquisa. Se são ótimos textos, por que não lê-los e estudá-los?
O mesmo acontece com as matérias dos pesquisadores Archimedes Marques e José Mendes da grande Cidade de Mossoró.
Abraços,
no aguardo do livro LAMPIÃO ALÉM DA VERSÃO, do mestre Alcino Costa.
Antonio José de Oliveira - Povoado Bela Vista - Serrinha-Bahia.
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