Rangel Alves da
Costa*
Para
muitos, tanto faz que Papai Noel exista ou não, que ele visite ou não qualquer
menino sonhador, mas a ceia natalina não pode deixar de existir de jeito
nenhum. Em nome da comilança todo o espírito natalino.
A ceia de
natal não é só costume e tradição, mas o instante mais esperado do ano para o
empaturramento com tudo que aparecer. É a simbologia da gula para grande parte
da população. Os pratos cintilam mais que as luzes natalinas.
E lambem
os beiços só em pensar nas comidas e sabores tantos que chegam à mesa em
profusão. Assados, mexidos, empanados, molhados e sólidos, pratos de todos os
tipos. Sem falar no sortimento de bebidas e outros manjares que aparecem.
Um natal
assim, nos moldes do esbanjamento, outra coisa não simboliza senão o consumismo
materialista, a gula desenfreada, a demonstração à mesa da bonança financeira
dos anfitriões. Bem assim nos enfeites natalinos, pois renas imensas,
alegoricamente faiscantes, estarão espalhadas pelos jardins.
Na
verdade, o natal transformou-se em mera ocasião de prazeres materiais.
Logicamente que não para todos, mas para uma parcela significante da sociedade
é apenas um período de troca de presentes, confraternizações suntuosas,
festanças as mais abastadas. Ora, o comércio tem-no como um milagre.
Até mesmo
os tradicionais amigos secretos estão se transformando numa disputa de valores
e qualidades. Não faz muito tempo que era máximo o contentamento daquele que
recebia uma lembrancinha singela, algo apenas para simbolizar a existência da
amizade. Mas hoje não. Triste daquele que entre na brincadeira e tente oferecer
um presentinho qualquer. Automaticamente será transformado em inimigo mortal.
Faltam as
luzes e os símbolos no coração e sobram as demagogias. Muitos se revestem do
natal apenas para apregoar o que não sentem, para fingir caridades, para espalhar
falsos gestos humanitários. E em meio aos fingimentos e aberrações, restam
solitários e esquecidos aqueles que traduzem na alma o verdadeiro natal.
E não
esquecendo aqueles que praticam caridade em nome próprio com o que foi doado
pelos outros. E muitos, talvez se achando também carentes, reservam para si
grande parte dos donativos natalinos. E ainda dizem não acreditar em Papai
Noel.
Na noite
de natal, ainda que a ceia seja preparada para reduzida família, ainda assim os
pratos sempre serão alentados. No dia seguinte e depois ainda é possível se
fartar com os restos que parecerão ainda mais gostosos e suculentos. Há quem
sustente ser o dia seguinte a verdadeira comemoração.
E se a
ceia é preparada para família grande, muitas pessoas e convidados, então será
preciso juntar algumas mesas para espalhar os sortimentos. É o momento em que o
cardápio vai muito além dos tradicionais pratos da ocasião. É quando iguarias
importadas se misturam às aves gordas da ocasião.
Bebidas
finas, copos de cristal, champanhes e vinhos de safras antigas, uísque já
ancião, garrafas com rótulos de difícil leitura. E aquelas pessoas com roupas
cheias de etiquetas e desconfortos, com tantos brilhos que rivalizam com a
luminescência dos cristais se tocando em brinde. Ninguém fala nada do natal,
apenas nos planos capitalistas para o ano vindouro.
E na mesma
hora, só que em outro lugar, a mesma ceia, ou aquilo que o termo possa
traduzir, estará sendo servida, porém de modo muito diferente. Não uma janta
especial, com alimentos diferenciados, mas aquilo de todo dia, e quando todo
dia tem para ser servido. E muitas vezes a ceia que é café, almoço e janta num
só prato e servida uma única vez ao dia.
Uma ceia
que se resume ao pão, e porque o pão foi nesse dia conseguido. E então a
verdadeira comemoração no humilde coração natalino. Ter o pão como ceia e o
melhor presente. Sem bola, sem brinquedo, sem nada, mas o menino adormecerá
contente porque qualquer dia terá um sapatinho para colocar na janela. Se
janela houver.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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