Rangel Alves da
Costa*
A saúde, a
paz e a felicidade, além da concretização das grandes esperanças, são as
dádivas mais desejadas para o ano vindouro. As intenções se renovam a cada
final de ano, e mesmo não sendo plenamente conseguidas ao longo do calendário,
ainda assim merecem e precisam ser almejadas. Ora, o ser humano não vive sem
arriscar as pedras no jogo da sorte.
Contudo,
as conquistas exigem esforços, sacrifícios, ou mesmo um simples reconhecimento
pelo que será permitido receber. Contudo, a simbologia ritual diz que deverá
haver uma contrapartida ou agraciamento daquele que também deseja ser
agraciado. Exige-se que se faça uma oferenda a Deus ou aos santos e anjos, ou
mesmo aos deuses e entidades, segundo a crença religiosa ou mística de cada um.
As
Escrituras falam em oblações, quando sacrifícios eram realizados para pedir ou
agradecer um reconhecimento divino; a liturgia católica fala em ofertório na
parte da missa durante a qual o padre oferece a Deus o pão e o vinho, antes de
consagrá-los. São oferendas, porém com conotações estritamente religiosas.
As pessoas
comuns também podem fazer oferendas, e tais práticas são mais comuns do que se
imagina. De repente, mesmo sem que a atitude tenha a intencionalidade da oferta
divina, alguém coloca um buquê de flores ao lado do oratório como
reconhecimento por uma graça alcançada. O agradecimento afeiçoa-se à oferenda.
Neste sentido, pagamento de promessa também não deixa de ser agradecimento por
meio de uma oferta daquilo que foi prometido.
Do mesmo modo, são muitas as oferendas para
que a divindade reconheça a intenção de alguém para alcançar graças e
objetivos. Ofertando, o indivíduo busca
agradar os olhos da divindade e conseguir forças e
merecimento para obter algo que tanto deseja. A finalidade da oferenda acaba se
resumindo a um tipo de negociação espiritual; ou seja, a pessoa oferta algo
simbólico para ter em troca algo realista.
Muitos não gostam do termo oferenda, eis que o mesmo exige
certo sacrifício. Preferem utilizar doação para significar algo que é dado
graciosamente e sem desejar retribuição imediata. Contudo, dificilmente não há
uma intencionalidade explícita naquele que homenageia por agradecimento ou que
oferece esperando receber algo em troca. Em tudo há oferenda, ainda que não se
exija qualquer tipo de sacrifício.
Oferenda para Iemanjá, lançando às águas barquinhos
repletos de flores, perfumes e outros presentes. Agradece as graças alcançadas
ou reafirma a fé que terá muito mais dali em diante. E a Rainha do Mar, na sua
singeleza sincrética, vaidosa como uma deusa maior, recebe todas as ofertas
como dádivas sublimes e lança de volta, na alvura das ondas, as graças tão
desejadas pelos seus fiéis.
Cada ser humano deveria fazer um verdadeiro sacrifício como
ofertório. Não matar ou sangrar animais, mas fazer algo que para muitos parecem
ser ainda mais impensável. E consistirá simplesmente em afastar dos corações
tantas vaidades, egoísmos, soberbas, preconceitos, discriminações, arrogâncias,
autoritarismos, desrespeito para com o próximo. Talvez seja sacrifício demais
para muitos, mas certamente colherão graças inesperadas.
Há uma oferta que além de ser remédio para a alma é
verdadeiro presente para o espírito. A pessoa precisa reconhecer-se importante,
sentir dentro de si um sopro de divindade e oferecer a si mesma aquilo que mais
encanta seus olhos e alegra seu coração. Flores, canções, encontros, beijos,
abraços, sabores, tudo como se num cesto enfeitado para o seu deleite.
E também uma cesta adornada e repleta de tudo aquilo que
simbolicamente desejaria para si. Mas enfeitada para o outro. Gratidão,
amizade, respeito, companheirismo, amor, união, ternura e afeto. E tudo com
laços de fita e flores do campo de uma manhã orvalhada. Depois colocada na
janela à espera do alvorecer do novo ano. E aí continuará como dádiva maior
daqueles que realmente desejam a paz, a saúde e a felicidade.
E terá não apenas um 2014 cheio de graças, mas uma
eternidade enquanto o coração agraciado estiver.
Poeta
e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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