*Rangel Alves da Costa
Logicamente que o tempo vai modificando tudo.
Não há que se imaginar o agora com a feição de ontem nem que os costumes
antigos continuem hoje em pena validade. Assim também na Semana Santa e na
Sexta-feira Maior, como se diz no sertão. Noutros tempos – ainda recordo –
desde a quarta-feira que os costumes eram transformados em quase penitência.
Comida só com coco, nada de carne de gado, frango, porco, bode, etc. Nada de
festas nem de farras. A Sexta-feira então era com feição de luto fechado. Roupa
preta de cima abaixo, de luto mesmo, nada de banho, de pentear os cabelos nem
varrer a casa. Sair somente para a igreja. Nada de conversinha com vizinhas nem
falar da vida alheia. Olhares entristecidos, aspectos melancólicos pelas ruas,
rezas e orações. A vez das beatas, das devotas, dos terços e dos rosários. De
tudo isso, apenas as sombras ou algum resquício. Hoje em dia, o que se tem como
Semana Santa e Sexta Maior são apenas datas e nomes. O comércio dolorosamente
fecha suas portas, mas os bares nem sempre. Ainda assim é farra por todo lugar.
Aproveita-se o feriado para bebemorar, para o festim, para tudo. Acaso pergunte
a algum jovem se foi ou vai a igreja, será uma única e só resposta: igreja é
coisa pra velha. Assim os tempos modernos interioranos. Assim a falsa fé e a
falsa devoção de um povo.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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