*Rangel Alves da Costa
Quando Maria passar eu vou perguntar a Maria,
mas também a Bastiana, a Zefinha, a Clotilde, a Filomena e todas as outras: Que
dia é o dia da mulher sertaneja? Quando se comemora a data festiva da mulher
sertaneja? Não sei qual o dia, pois dia após dia, e todos os dias, são dias da
mulher sertaneja. Uma mulher, uma Maria vestida de sol, tantas mulheres e
tantas Marias, Zefinhas e Clotildes, vestidas de sóis e de luas, ornadas de
encantos e de luz, seguindo pelas estradas de seu mundo sertão. Mulher, mulheres,
todas as vidas femininas deste mundo tão mandacaru e tão flor em cada Maria, em
cada Zefa da Guia. A mulher em sua calçada, em sua porta, em seu quintal. A
mulher fateira, parteira, varredeira, lavadeira, empregada doméstica, dona de
lar, profissional, de anel no dedo, de mão calejada, de pés descalços ou
chinelo da moda, por cima da grã-finagem ou na roupa rasgada. Maria de vestido
de chita, de saia rodada, de cantiga na boca, de tristeza no olhar, de unha
pintada ou de palma da mão já lanhada da luta e da lide. Mulheres de um sertão
tão mulher, pois nascida na natureza mulher e crescida na terra tão bela e tão
sofrida mulher. Negras, pardas, brancas, ricas, pobres, apenas viventes. Mulher
mocinha à janela, mulher calejada no prumo da estrada, mulher que coloca o
prato na mesa e ora pelos seus que haverão de chegar. Mulher da lágrima e do
sorriso, mulher que me chama de filho e dou a benção e chamo de mãe. Uma mulher
assim que agora está no sertão. Uma mulher assim que nem sempre é lembrada e
valorizada. Uma mulher assim de um coração tão tamanho que pulsa muito além de
seu seio familiar, pois todos são seus filhos, todos nascidos de um ventre
flor, seja nos casebres ou nos casarios. Minha mãe, uma mulher Maria, partiu e
ficou aqui, e hoje também o seu dia.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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