*Rangel Alves da Costa
Assim como no procedimento empregatício de
admissão e dispensa, na política também se verifica um procedimento semelhante:
eleição para contratação e demissão, também para vínculo de experiência e de
permanência. O último dia 07, após o término da apuração dos votos, muitos já
foram definidos dentre as mais diversas situações. Ainda resta uma vaga, e esta
disputada entre dois pleiteantes. Mas logo se saberá que tomará o caminho de casa.
Muitos destes, na ânsia de perpetuação no
encastelamento do poder, negaram-se a aderir aos programas de demissão
voluntária e foram atrás de novos vínculos. Contudo, com prontuários pouco
recomendáveis, com ineficazes registros de rendimento, com fichas testemunhando
arbitrariedades e omissões, além de já estarem totalmente alheios aos novos
tempos de produtividade na política, acabaram sendo forçados a, envergonhados,
abandonarem suas carreiras pelas portas do fundo.
Os novos tempos exigem o novo, como diria o
porteiro do prédio. Mas os novos e encorajados, os novos cheios de ânimo e de
ânsia por fazer, nem sempre possuem seu acesso garantido ao mercado da
política. Muitas vezes, por causa da velha prática da poderosa mão que empurra
ou da indicação a todo custo, alguns novos são como que jogados no exercício da
vida política. Sem ao menos terem passado por contrato de experiência, vão logo
assumindo funções como se já estivessem devidamente capacitados.
Neste último pleito eleitoral, o que se
observou foi a sumária demissão de muita gente que até se achava dona de tudo.
Achando-se donos do poder, concebendo-se como intocáveis e até invencíveis,
ainda assim tiveram que amargar as escolhas implacáveis das urnas. Dando como
certas as continuidades de vínculo político, geralmente subindo de uma
hierarquia a outra ou almejando nova função, estes, como se diz, começaram a
cair do cavalo logo no início da apuração. Onde foi que eu errei, o que eu fiz
para ser assim tão negado nas urnas, foi exatamente isso que muito figurão
silenciosamente se perguntou.
Perguntou a si mesmo por que quis, pois já
sabia muito bem que o eleitor - aquele mesmo povo do setor de recursos humanos
da política e que cuida do processo de admissão e demissão - já estava com sua
sentença assinada, já estava com a carta de demissão debaixo do braço, e pronto
para mostrá-lo com quantas moedas se dá um troco. Que não se brinque com o
eleitor. Os exemplos estão ferindo e sangrando. E assim foi feito. Candidato
escudado no poder, no dinheiro ou no prestígio do clã político, sendo
simplesmente jogado à rua sem dó nem piedade.
Uma pena que a renovação na política não vem
acompanhada da demissão imediata de todas as velhas raposas. Porém, se os novos
quadros surgidos também se acostumarem ao nada fazer, ao envolvimento com
falcatruas ou à ilusão que se tornaram imbatíveis, que o troco seja dado. Quem
faz entrar pela porta da frente pode muito bem ensinar onde fica a porta dos
fundos. E assim será necessário pelo fato de que os acreditados pelo eleitor devem
sempre dar provas que mereceram suas escolhas. Não é se valendo no escudo do
poder ou com as chaves da porteira do curral que os eleitos garantirão suas
escolhas no próximo pleito.
Que garantam suas escolhas por terem
dignificado a confiança que lhes foi dada, mas que também tenham a exata
consciência da fragilidade do mandato eletivo. Quem é agora já não será nada
amanhã. Quem já teve tudo, poderá amanhã esmolar uma cuia de votos e não
conseguir um só grão. Os exemplos estão dados e bem dados. Já houve gestor que
depois não foi eleito nem pra síndico. Já houve coronel dono do mundo que
recebeu rasteira bem dada daqueles que acostumava manter sob a sola de suas
botas. Bem feito. E assim deve ser.
Pelo Brasil inteiro houve uma renovação
parlamentar sem igual. Novos nomes surgiram e antigos figurões da política
tiveram que pegar a estrada. Perdeu poderoso no planalto, perdeu ex-ministro,
perdeu ex-presidente, perderam muitos daqueles que jamais imaginaram serem tão
fragorosamente alijados de mandatos. E estes, pelos infindáveis anos de
corredores brasilienses e tão acostumados que estavam com os gabinetes, os
mandos e as benesses de todos os tipos, agora se veem verdadeiramente no mato
sem cachorro. Ou apenas com o passado para se contentar.
Em Sergipe não foi diferente. Arrastados por
escudos paternos ou por grupos familiares poderosos, jovens foram eleitos e
muito bem votados. Inexperientes na política, o que se espera é que a
capacitação venha com o aprendizado e a humildade, e não pela arrogância espelhada
no número de votos obtidos nem pelo painho que está ali ou acolá. Já outros,
agora de lenços ainda às mãos e se sustentando em calmantes, que lancem o olhar
à estrada do ontem, do passado, para saberem se realmente mereciam ser
afastados do poder de forma tão humilhante.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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