*Rangel Alves da Costa
Eu em mim. Nunca mais eu havia me
reencontrando neste espelho. Um reflexo tão triste e doloroso quanto a própria
vida. Eu aqui de cigarro aceso, sem palavra, sem companhia, sem boa cabeça para
pensar em nada. Triste, de tristeza infinita. Não estou bem. Ando sofrendo
demais. Minha borboleta nunca mais apareceu. Também cortaram o meu pé de
laranja lima. Minha nuvem passa sem desenho ou fotografia. Nada na manhã, breu
ao escurecer. Eu não era assim. Apenas entristecia, apenas sofria um pouquinho,
apenas sangrava um pouquinho. Mas eis que de repente surgiram os açoites, as
ventanias, os vendavais, as tempestades. Não tenho estrada nem lírios do campo.
Não tenho valsa para valsar. Não tenho um Noturno de Chopin nem uma taça de
vinho. Minha janela está aberta e nenhuma lua quer entrar. Talvez amanhã eu
melhore. Talvez amanhã eu esteja bem melhor. E fugindo dos desvãos da vida,
nunca mais querer experimentar as páginas dolorosas e angustiantes como nas
confissões literárias - e de vida - de Clarice Lispector.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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