*Rangel Alves da Costa
Numa beira de estrada, lá nas distâncias o
mundo, mundo sertão de arribada, mas de viver tão profundo que o amor é
milagreiro e de existir tão fecundo. Casebre de pobreza e humildade, mas de riqueza
tamanha que não existe igualdade. Dizer com toda franqueza, expressando toda
verdade, quanto mais amor matuto mais se perfaz na beleza e na flor da
sinceridade. Ninguém diz da poesia que brota a cada dia. Ele lanhado de sol, na
luta desde o arrebol, de feição entristecida mas de coração rouxinol. Ela toda
sem jeito, sem requebro nem trejeito, mas com um jardim no peito. Não há um
dizer que te amo, não há um falar que te quero, mas o coração em proclamo diz
tudo no silêncio mais sincero. Um olhar tão sertanejo que ao outro retine em
lampejo, uma confissão que ao outro se faz poesia tão bela. “Minha muié venha
cá, se eu pudesse remoçar e de novo namorar, seria a sua fulô que eu queria
cheirar. Como o tempo já passou e sua fulô tá em mim, eu juro por Deus do céu
que quero te amar sem fim...”. “Meu home num digo isso, aqui dentro um rebuliço
e tu sabe que é por isso que tanto me enfeitiço, quando pega na minha mão e na
cama me dá sumiço”. E assim no dia após dia, nesse amor sem fantasia, sem
traição ou mentira, entre o padecer e a alegria. Um amor caboclo e matuto, mas
na imensidão seu tributo, amado de minuto a minuto. Um amor café torrado,
vivido e saboreado como se a sorte da vida fosse ter o outro encontrado. Um
amor de amanhecer, singela luz do primeiro alvorecer, mostrando ao mundo lá
fora como o amor deve ser. Ali na casinha humilde há um amor assim. O barro
caindo não mostra o jardim e seu jasmim. Provado que o amor existe mesmo na
seca ruim, que se ama e se revela mesmo na cama de capim. Que em meio aos
abutres, se faz anjo querubim. E sei que existe sim, um amor existe assim, lá
nas terras do sem-fim.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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