*Rangel Alves da Costa
É neste domingo, dia 07 de outubro, dia de
disputa eleitoral, e o pleito vai se estender até o entardecer. Depois disso, a
divulgação das pesquisas de boca-de-urna, o disse-me-disse, as expectativas e,
enfim, as apurações e o aparecimento dos primeiro resultados. Ante as novas tecnologias,
não demora muito e toda a apuração já estará concluída. Muitas vezes, não há
nem tempo de o candidato ir à farmácia comprar um turbilhão de calmantes ou
adquirir lenços para as lágrimas doces ou amargas demais.
Com a primeira parcial apresentada em painel
no centro de apurações, logo se terá o sorriso largo ou a tristeza apresada. As
urnas são santas, dirão uns. As urnas são traiçoeiras, dirão outros. As mãos
trêmulas tentam anotar números, resultados, fazer cálculos. Não conseguem. O
nervosismo é demais. A vida do candidato está ali. Depois de meses e meses de
porta em porta - mentindo descaradamente -, indo de canto a outro, prometendo
muito e gastando pouco, agora a hora do tudo ou do nada.
Tem gente que não acredita no que avista e
logo põe as mãos à cabeça em total desespero. Os saltos e os murros pelo ar são
sempre sinais de números bons que acabaram de surgir. Num canto, um pleiteante
está totalmente estático, paralisado. Não, aquilo não pode ter acontecido.
Nenhum voto na seção que votam sua esposa e sua amante. Alguma coisa deu
errada, lamenta-se enquanto refugia-se para o quase desmaiar. Um copo d’água
não serve. Quer mesmo é morrer. Vai saindo de fininho e nem se lembra das
dívidas que deixou para trás. Estava certo de pagar tudo antes mesmo de tomar
posse. E agora?
As expectativas aumentam. As primeiras urnas
sinalizam o destino dos candidatos, mas não define. Muita água ainda pode rolar
debaixo da ponte, como chega um para esperançar um pleiteante já cabisbaixo e
desiludido. Outro se aproxima para dizer que o berço eleitoral do candidato
ainda não foi totalizado e que, por isso mesmo, ele pode dar a volta por cima.
Já outro vai logo correndo atrás de fogos, já vai chamando o candidato de
deputado, senador ou governador. E relembrando na hora aquele emprego
prometido. O quase-eleito - e como sempre acontece - já mudou o discurso, já
não força sorrisos, agora tanto faz aquela gentalha que nele votou.
Noutros idos, após o término da votação,
logos os preparativos das festanças tomavam rumo. Numa disputa política local,
num tempo de voto de cabresto e curral fechado, as lideranças locais se
digladiavam não pela vitória de dois da mesma localidade para tomar assento na
assembleia legislativa, mas pela vitória de um e a derrota do outro. A maior
vitória do ferrenho opositor era a derrota do outro. O sucesso deste seria um
fracasso total ao seu grupo político, que certamente se fragilizaria a partir
da debandada de falsos amigos e eleitores.
Assim, terminada a eleição, o coronel
Miguelino Cabreúva mandava matar cinco bois para a festança de comemoração do
fracasso de seu opositor. Cinco bois, meio mundo de cajuína e aguardente, fogos
de não acabar mais. Naquela eleição, ao invés de apoiar qualquer outro
candidato de fora, esmerou-se mesmo em fazer política para tirar votos do
inimigo. Onde soubesse que havia uma família propensa a apoiá-lo, logo era
encaminhada uma comitiva de jagunços com dois contos à mão e um recado bem
dado: Se votar no coronel Torquato não sobra nem pó!
Por sua vez, ciente de já estar vitorioso, o
coronel Torquato Quixabeira preparava uma comemoração ainda maior. Ele queria
porque queria mostrar a seu desafeto quem mandava ali. Ademais, o poder local
não podia continuar dividido entre dois coronéis. E agora, sendo eleito deputado
da região, forçaria a todo custo a queda do opositor. Por isso mesmo havia
vendido de porteira fechada uma de suas tantas fazendas, redobrado o número de
seus pistoleiros, e tudo para ganhar a eleição no dinheiro ou na bala. Vixe
Maria, dizia o vigário Miguelino em meio à trincheira sangrenta.
Quem se deu melhor nessa disputa de mando?
Tanto faz. Em política, quem é eleito nem sempre sai vitorioso, quem perde nem
sempre sai totalmente derrotado. Na vitória há um fardo pesado demais a ser
carregado. Ao menos para aqueles com algum compromisso ou seriedade. Não é nada
fácil mostrar que valeu a pena ser votado, pagar promessas, não se desnortear
muito daquilo que se mostrou enquanto candidato, mas principalmente continuar
sendo respeitado pela população e eleitores.
Já os não eleitos, muitos destes se
posicionam com pedras à mão e mirando determinadas janelas. E permanecerão
derrotados acaso não façam do insucesso uma lição. Não adianta apenas fazer
oposição. Tem que mostrar que poderia fazer melhor. Contrariamente ao que se
imagina, oposição política exige demonstração de ação e capacidade para as
futuras escolhas, e não apenas enlamear nomes, administrações e governanças.
Ao final deste domingo, os eleitos ou
escolhidos para o segundo turno já estarão conhecidos. E certamente com fogos e
lágrimas. Mas é o povo quem acende o pavio ou entrega o lenço. E assim deveria
ser mais reconhecido, bem como suas motivações para eleger ou derrotar.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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