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terça-feira, 26 de julho de 2011

"PARA QUE CHORAR O QUE PASSOU, LAMENTAR PERDIDAS ILUSÕES..." (Crônica)

“PARA QUE CHORAR O QUE PASSOU, LAMENTAR PERDIDAS ILUSÕES...”

                                            Rangel Alves da Costa


Muitas vezes, é preciso que as luzes da ribalta se acendam para clarificar a certeza que a vida é um eterno caminho, um eterno continuar, não cabendo o ser humano tentar construir lamentando perdidas ilusões.
Ora, verdadeiramente as coisas não acontecem segundo desejamos sempre. Ao lado das alegrias pontuam as tristezas, as conquistas estão ladeadas com as derrotas, os amores são também temperados pelos dissabores.
Por tudo ser inevitavelmente assim, tudo que não foi conquistado será motivo para dar forças para novas lutas, novos empenhos, novas realizações. De nada adianta não tentar dar o passo seguinte porque o passo atrás foi em falso. As pedras, sempre as pedras no meio do caminho...
Essa necessidade que o homem possui de jamais esmorecer, jamais entregar os pontos e partir para o melhor a partir do fio tênue do medo, pensando sempre num amanhã muito melhor, está magistralmente expressa na genial letra de Charles Chaplin, o Carlitos, “Limelight”, que na versão brasileira feita por Antonio Almeida e João de Barro, o Braguinha, ganhou o título de “Luzes da Ribalta”.
“Vidas que se acabam a sorrir/ Luzes que se apagam, nada mais/ É sonhar em vão tentar aos outros iludir/ Se o que se foi pra nós/ Não voltará jamais/ Para que chorar o que passou/ Lamentar perdidas ilusões/ Se o ideal que sempre nos acalentou/ Renascerá em outros corações”. Eis a versão.
Então, o que nos quer dizer a genialidade de Chaplin? Imagine o próprio Carlitos como palhaço e, para cumprir seu ofício de proporcionar alegria à platéia, assim que as luzes se acendem tem que entrar na ribalta deixando todos os problemas pessoais para trás.
A vida pessoal do velho artista pouco importa nesse momento, pois quem tem a incumbência de tornar os outros felizes é o palhaço. Da cortina pra trás há todo um sofrimento, angústias infindas, tristezas, desamores, dificuldades de toda ordem, um verdadeiro caos. Mas isto não cabe ser vivenciado agora, pois as luzes da ribalta não se acendem para a tristeza nem para o sofrimento.
Todo mundo conhece uma história assim: o palhaço entra no picadeiro chorando e ainda assim tem que passar para as pessoas uma imensa felicidade, alegria contagiante, entusiasmo e prazer em tudo que faz. As pessoas não sabem do seu sofrimento íntimo, dos motivos daquele chorar interno que continua existindo, pois o próprio palhaço não deixa que nada disso transpareça. E por que ele faz isso? Porque sabe que um motivo ruim não pode ter a capacidade de destruir a vida totalmente.
E essa capacidade de fingimento que caracteriza o palhaço em ação, se levada a efeito na vida cotidiana certamente será de grande utilidade para o ser humano compreender que os problemas só podem ser vencidos se procurar superá-los com a certeza que nada está perdido. Ora, viver de lamentações, entregando os pontos, afirmando a si mesmo que tudo já está perdido, além de não modificar nada tenderá a fragilizar ainda mais o indivíduo.
Ademais, o velho palhaço sabe que as situações existentes precisam ser enfrentadas na sua feição presente e não revividas como se o ontem fosse mudar alguma coisa. A partir do já, do agora, do instante, o homem deve mirar seu olhar, dar o seu passo, ter a certeza que é pra frente que se anda e só conseguirá construir, apagando e destruindo velhos alicerces, se tiver a confiança que é capaz de tudo e tudo alcançará nessa força.
Esse denodo que deve ter o ser humano, segundo Carlitos, deve ser tão absoluto e extremo que mesmo a vida já estando chegando ao seu limite, ainda assim o ser humano, pela força que tem, continua sorrindo. E o que é mais importante, sem lamentar o que não foi conseguido, sem chorar o passado, sem tentar alcançar mais nenhuma ilusão perdida, pois o seu ideal foi conseguido: vencer!



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com       

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