SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 15 de novembro de 2012

UM CAFEZINHO... (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


Um cafezinho? Ora, aceito sim, mas só se for para ser bebericado na sua companhia, pois, acredite amigo, não via a hora de esse momento chegar para abrir o baú que andava me atormentando o juízo.
Não, quero açúcar não. Café só fumaçando na xícara pequena, sem açúcar, adoçante ou qualquer coisa que lhe tire o gosto e o aroma. Também não quero biscoitos, nada, apenas sorvê-lo com a palavra que tenho à boca e o prazer indescritível desse momento.
Pois bem amigo, andei pensando muito sobre aquela história. Uma história dessas jamais iria sair assim do meu pensamento. Verdade é que não acreditando mais no que diziam, acabei indo até lá para ver com meus próprios olhos e acabar com todo aquele disse-me-disse.
E sabe o que encontrei? Acredite se quiser, mas ainda tem gente vivendo pelos escondidos do sertão que nunca, em qualquer momento da vida, colocou os pés além da cancela. Quer dizer, nunca conheceu outra casa, não sabe o que é rua, muito menos cidade. Se falar, haverá de pensar que loja é bicho, escola é coisa do outro mundo, igreja é assombração.
À moda dos últimos índios embrenhados na selva e ainda imunes às nefastas ações dos visitantes, se comportam de tal modo que não é possível precisar bem se estamos na presença de uma criança ou de um adulto. De reconhecida inocência, ou fica de rosto fechado, em silêncio profundo, ou esboçando um sorriso meio sem jeito. Ainda há gente assim, compadre, e pode acreditar.
Outra coisa que me cafinfou por muito tempo diz respeito aos seres de outros planetas, os tais extraterrestres, que dizem viver entre nós. Digo logo que acredito plenamente que isto seja verdade. Se alguém me falasse sobre eles há algum tempo atrás juro que tomaria na pilhéria, na brincadeira de mau gosto. Mas agora não posso mais duvidar.
Não falo bobagem não, compadre, nem pense em conversa fiada de minha parte. A televisão mostra muito sobre isso, porém nada igual como a gente ver com nossos próprios olhos. Era noite já tomada de escuridão, mas ainda assim avistei um vulto descendo num pulo da goiabeira da casa da vizinha. Coisa tão rápida que parecia um gato.
Gato ou outro bicho, mas ao cair no chão ficou de quatro por alguns instantes, e como que farejando. Num segundo depois já ficou de pé feito gente e se encaminhando sorrateiramente para a porta dos fundos da casa. Ora, se a porta só vive fechada, ele só pode tê-la ultrapassado pela madeira mesmo, sem precisar empurrar ou abrir.
Depois comecei a ouvir um barulho estranho e logo temi pela sorte da vizinha, principalmente porque o marido ainda estava trabalhando àquela hora da noite. Corri até lá e estranhamente encontrei a porta apenas encostada. Ouvindo o barulho cada vez mais perto, uma gemedeira danada, então logo gritei pelo nome da coitadinha. A gemedeira parou no mesmo instante, mas ouvi outro barulho como se fosse de uma janela se abrindo e alguém pulando dela.
Desesperado, temendo pelo pior, apressadamente entrei no quarto e encontrei uma cena esquisita. Eis que a vizinha estava quase pelada, esparramada em cima da cama, toda suada, com o cabelo desengonçado, e respirando com dificuldade conseguia apenas apontar pra janela. Corri para preparar um copo de garapa e quando voltei encontrei-a na mesma posição, só que completamente nua.
E ainda parecendo transtornada começou a me agradecer por tudo na vida. E disse que se não fosse a minha chegada ela certamente teria sido abduzida por um ser estranho de outro planeta, um extraterrestre musculoso que fugiu pela janela assim que sentiu a minha presença ali. E a coitadinha estava tão assustada que me pediu para ficar ali ao lado dela por mais alguns instantes.
Tenho certeza que o compadre vai me perguntar se fiquei, não é mesmo? Não compadre, fiquei não. Que ninguém saiba, que fique só aqui entre a gente, mas a verdade é que também tenho um medo danado dessa gente desconhecida, de gente de outro planeta. Esse povo é muito perigoso. Juro que não consigo esquecer a gemedeira da pobrezinha. Deus me livre!
Mas se não for muito trabalhoso vou aceitar mais um cafezinho, pode ser? Pois bem. Então vou contar a história do padre que pegou o coroinha por cima da beata na sacristia. Coitado do prometido. Morreu nos braços da amante. Crime passional cometido pelo vigário, pois era apaixonado pelo rapazinho. Mas não fica só nisso não...
  

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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