Rangel Alves da Costa*
Na sua genial “A Arte da Guerra”, acertadamente
o general e estrategista chinês Sun Tzu ensina que o grande segredo no
confronto está nas armas que podem ser utilizadas. E quanto mais as armas forem
desconhecidas ou de dificultosa defesa, mais a batalha tenderá a ter desfecho
favorável, eis que uma batalha se vence não com os canhões já conhecidos, mas
com outras e inesperadas artilharias.
Considerando-se que quase tudo na vida exige
embate, confronto, um verdadeiro guerrear para vencer as dificuldades, também
neste contexto caberá a utilização das lições e estratégias de SunTzu. Onde
haja competitividade, concorrência, disputa, sempre haverá alguém tentando se
sobrepor o outro com as armas que possuir. O segredo, contudo, não está no
poderio bélico, mas na forma de sua utilização.
E na guerra da política não poderia ser
diferente. E que guerra feroz, mortal, destruidora, é uma disputa política, o
confronto para ultrapassar as linhas inimigas e tomar o front da governança ou
do parlamento. E também o tipo de guerra onde são utilizadas as armas mais
inesperadas, pois o que geralmente se vê são adversários contra-atacando com as
mesmas armas disparadas pelos inimigos.
A estratégia é por demais conhecida. O
adversário ataca com ferocidade, tentando a todo custo destruir de vez as
forças do inimigo. Mas este, certamente já conhecendo o potencial bélico à
disposição do outro, nem tem o trabalho de lançar seu fogo maior mantido como
surpresa, pois reutiliza a mesma arma lançada, inflando-a com mais poder de
destruição, e em seguida revida com ferocidade.
É bem assim que acontece quando adversários
políticos fazem das palavras suas principais armas de ataque e defesa. Quando
um lança acusações sobre o outro na tentativa de enfraquecer sua candidatura ou
mostrar que o mesmo fez isso ou aquilo contra a população, logo as mesmas
palavras serão convertidas em contra-ataque. Então as acusações mútuas vão
ganhando contornos inimagináveis, surgindo revelações vergonhosas e
estarrecedoras.
O problema é que é muito difícil saber quem
está dizendo a verdade, quem está com razão nas acusações feitas. Talvez
nenhum, mas as acusações são tão fortes e contundentes que é preciso muito
cuidado para não incorrer no erro de declarar de vez um vitorioso.
Costumeiramente um adversário acusa o outro de tudo fazer para que não haja
progresso nem desenvolvimento social. Já o outro rebate afirmando que todos
sabem quem jamais se preocupou com a população e com a seriedade no trato da
coisa pública.
As mentiras são tão utilizadas numa guerra
eleitoral que já não surtem mais os efeitos desejados. Como cabe ao povo
acreditar nas aleivosias lançadas de lado a outro, e como grande parte da
população já conhece muito bem a moral e a seriedade dos políticos acusadores,
então se torna cada vez mais difícil espalhar um fato e emplacá-lo como
verdade. Mas ainda assim se alastram nos quatro cantos as leviandades
proferidas pelo candidato ou seus combatentes contra o rival.
Nessa guerra de rivais pelo poder, ainda que
os ataques sejam proferidos pelos próprios adversários, de importância
fundamental se tornam os combatentes que tomam partido de um lado ou outro.
Quando o candidato lança ataque feroz ao adversário, cabe aos seus aliados
tanto servirem de escudo como de contra-atacantes. E muitas vezes rebatem ainda
com maior ferocidade, provocando estilhaços e vítimas além do imaginado.
Mas a guerra de repente deflagrada nem sempre
é provocada por rivalidades antigas. Ex-amigos de front, combatentes da mesma
fileira, políticos que no passado recente estavam do mesmo lado podem se
insurgir em nome do poder. Aqueles que posavam juntos e sorridentes em
fotografias agora são avistados de armas em punho, mirando um ao outro, e
sempre procurando mostrar que nunca venderam para a população os mesmos
projetos políticos. Aqueles que em outras ocasiões estavam unidos para atacar
adversários, agora se agridem e se enlameiam. Infelizmente assim acontece
quando os fins justificam os meios; ou seja, quando a perspectiva de poder
torna aliados em inimigos ferozes.
Contudo que ninguém imagine que tais
contendores, tais adversários tão ferozes e belicosos, são tão inimigos assim.
A guerra feroz é disputada para uma plateia de eleitores, e por isso mesmo com
rompantes de violências, animosidades extremas, tentativas de destruição a todo
custo. Mas os bastidores da guerra mostram situações bem diferentes. Os rivais se
conhecem a tal ponto, sabem tantos segredos um do outro que até se preocupam em
preservar determinadas situações. Sendo farinha do mesmo saco, reconhecem que
não adianta revirar o pó quando ali também surgirá sua feição igualmente
imunda.
E assim prosseguirá a guerra até que as urnas
digam quem foi melhor estrategista. Apenas melhor estrategista, pois na batalha
eleitoral não há como reconhecer que venceu aquele que é melhor, mais justo,
mais honesto. Pelo contrário.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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