Rangel Alves da Costa*
Carnaval é o evento mais festejado do calendário
nacional. Não é por menos que as escolas de samba trabalham incansavelmente o
ano inteiro à espera do momento mágico do desfile, e coisa rápida para a
grandiosidade de cada agremiação. Por isso mesmo ter gente que respira carnaval
durante todo o percurso do ano.
Contudo, a maioria é formada por
profissionais dos barracões, por uma gente que vive disso e pra isso. Outra
parte, principalmente aquela formada por pessoas das comunidades onde as
escolas possuem seus berços, sente o coração pulsar mais forte neste período, e
ainda mais quando defenderá na avenida o estandarte de sua escola.
Mas nem todos vivem nas capitais onde as
escolas de samba comandam a folia carnavalesca. Espalhados pelos quatro cantos
do país estão aqueles foliões de salão, de carnaval de rua, de blocos, de trios
e cordões. Mas também tantos outros que nem suportam ouvir o ronco dos
tambores.
Onde os trios elétricos passam arrastando
multidões e as vozes vão ecoando os sucessos do momento, certamente há euforia
parecida com aquela observada nos desfiles das escolas de samba, só que de
forma mais espontânea e desorganizada. E forçadamente dança quem vai apenas
apreciar.
Nas regiões interioranas, principalmente
aquelas litorâneas onde as águas dos rios ou praias já garantem a diversão,
basta que surjam alguns trinados ou um carro de mala aberta e com som potente
para que tudo se torne em animação sem hora pra acabar. Pela justificação de
ser carnaval, momento apropriado para brincar e se divertir, então a bebida e
outras ingestões se tornam como máscaras dos foliões.
Mas quem não gosta de carnaval, não se sente
bem nem ouvindo uma marchinha dos velhos tempos, o que deve fazer no período momesco?
As opções são muitas, dependendo do gosto e dos objetivos de cada um.
Acaso a aversão seja simplesmente com relação
aos festejos, outra coisa não resta a fazer senão aproveitar o período para
agendar alguns afazeres pessoais, escolher alguns bons livros e filmes, dar
adeus ao mundo lá fora e se manter de portas fechadas, no desejado
enclausuramento.
Eis o momento apropriado para reencontrar um
pouco consigo mesmo, dialogar intimamente, colocar em ordem aquilo que desde
muito vem sendo procrastinado. E também a ocasião ideal para colocar no papel
tramas e enredos engavetados na mente, tecer os poemas que permaneciam
inacabados no livro do coração.
Mas se a opção de não participar do carnaval
for de ordem espiritual ou religiosa, a busca por um bom retiro talvez seja o
melhor caminho. As igrejas, grupos e comunidades religiosas geralmente
organizam retiros em locais previamente destinados aos cantos, às palestras, às
leituras, jogos e brincadeiras.
Acaso o desejo seja pelo silêncio, pelo real
distanciamento do mundo lá fora, onde se possa desfrutar de cenários e
paisagens ideais para a meditação e a reflexão, então não há nada mais
convidativo que acampar. E talvez na beira de um rio ou lago, numa planície
verdejante ou nalgum lugar onde seja possível ouvir os sons da natureza ao
redor.
Sorte daqueles que podem viajar para pousadas
em meio à natureza, que podem alugar casas em regiões serranas ou simplesmente
sentir os encantos de um hotel fazenda. Contudo, há os que se contentam em apenas
ter os dias de descanso na própria residência, e de vez em quando
experimentando uma bebida para aliviar o calor.
Como não sou folião nem viajo, estou sem
beber e desde muito que não danço sequer uma valsa, quase não mudo minha
rotina. Mas minha vontade é de subir na mais alta das montanhas e lá em cima,
no silêncio das horas e na paz das alturas, simplesmente esquecer que o mundo
existe.
Mas ter a certeza que Deus existe e que está
ali. E com ele conversar até quarta-feira de cinzas. E trazer a sua presença e
a sua palavra para mais próximas de minha vida.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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