Rangel Alves da
Costa*
Por mais
que muitos pretendam sepultar de vez o passado, considerar toda coisa antiga
como ultrapassada e achar o novo como se sobrepondo a tudo, nunca será demais
lembrar que o moderno, em muitos aspectos, se mostra bem menos admirável que o
antigo.
Nem será
preciso ir buscar em baús os exemplos da validade das coisas tidas como
ultrapassadas. Os costumes, as virtudes, o respeito devotado ao próximo e mesmo
pequenas ações cotidianas, exemplificam bem como o velho continua imponente
diante da fragilidade do novo.
Ora, será
que a modernidade, para ser aceitável, desumanizou o homem, afastou-lhe a
ética, o senso moral e os bons costumes? Será que para ser tido como moderno o
indivíduo tem de atropelar seu convívio cotidiano, não considerar o próximo,
principalmente o mais velho, com o devido respeito?
É bem
velho, porém sem igual em virtude, em honradez, em jeito respeitoso de ser, o
cumprimento, o trato diferenciado que se deve devotar a determinadas pessoas
pela idade ou parentesco. E de igual idade chamar o mais idoso de meu avô ou
minha avó, meu tio ou minha tia. Será que se tornou feio fazer isso hoje?
Verdade é
que a grande maioria dos viventes do mundo novo, progressista e
tecnologicamente inatacável, acolheu a ciência em detrimento da religião.
Desatenciosamente ou não, negligentemente ou não, mas a verdade é que foi
afastando de si um de seus aspectos humanos mais importantes: o temor.
O homem
que teme se impõe limites. E nestes limites sabe muito bem utilizar o novo sem
deixar de lado o seu lado humano ciente de que é tão frágil quanto o pó que
mais tarde se tornará. Vive-se a modernidade sem afastar-se das lições
primordiais da vida, e estas, por surgirem graciosamente aos homes de
consciência, servirão para impedir as desastrosas rupturas.
Contudo,
as engrenagens do progresso parecem impor ao indivíduo modos de pensar e agir
que o afastam cada vez mais daquelas lições básicas e dos princípios morais e
éticos condutores da vida. Talvez por envergonhamento, mas a verdade é que
fazem de tudo para esconder aquilo que de mais humano há em seus corações.
Daí que
dificilmente um jovem é encontrado lendo a Bíblia numa praça, discutindo os
evangelhos com amigos, tecendo considerações sobre o pecado e outros descaminhos
da vida. Não sei se continuam acreditando num Deus único e verdadeiro, não sei
se ainda serão capazes de se ajoelhar em contrição, não sei se ainda rezam
pedindo proteção divina.
A fé, a
religiosidade, a oração, a promessa, a conduta moral, a honradez, o respeito ao
próximo e a si mesmo, talvez sejam coisas velhas demais para serem consideradas
pelos habitantes do mundo novo. Mesmo que estes sigam por outros caminhos, em
busca de deuses impossíveis de alucinações verdadeiras, verdade é que jamais
poderão afirmar que os seus avôs ou seus pais estejam errados nos seus jeitos
de agir, de acreditar e de conviver.
Agem de
modo totalmente diferenciado, mas sabem que as velhas lições possuem suas
razões e suas validades em todos os caminhos e momentos da vida. Talvez não
lembrem mais das virtudes humanas, dos pecados capitais nem dos mandamentos
cristãos e da igreja, mas não possuem forças para contradizê-los nem
compará-los com o que acreditam. E porque sabem da perenidade daqueles
ensinamentos.
Nesse
passo, duvido que o novo afirme que os costumes e hábitos antigos perderam suas
razões de ser. Não fazem como antigamente, não se veem agindo normalmente ao
tentar ser como seus velhos familiares, e por isso mesmo se espantam quando
avistam alguém tirando o chapéu para cumprimentar, ajuda uma idosa atravessar
uma rua, dá um simples bom dia ou boa tarde.
Que
espanto seria receber uma carta marcada com beijo ou até mesmo ser agraciado
com um bilhetinho de amor. Nunca mais cartilha, nunca mais tabuada, nunca mais
desenhar a letra por cima do caderno de caligrafia. Hoje tudo está diferente e
fazem tudo diferente. Mas essas pequenas coisas continuam com o dom de molhar
os olhos de saudades.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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