Rangel Alves da
Costa*
A tristeza
é da essencialidade humana. É sentimento expressando situações dolorosas ou
meros dissabores no percurso existencial. Lembranças, recordações, todo que
existe no baú dos acontecidos, de repente pode ressurgir de forma melancólica e
angustiante. Tudo provoca a temida tristeza.
Do mesmo
modo, as consequências desfavoráveis na trajetória da vida. A perda de um ente
querido, um adeus inesperado, um amor desfeito, o indesejado que insiste em
acontecer; enfim, uma soma de situações que abalam profundamente o ânimo e o
espírito. E que tristeza provocam!
Mas a
tristeza não deve ser vista de modo assim tão destrutivo, aterrador. Indubitavelmente
provoca estados indesejados, parecendo querer abrir um fosso aos pés da pessoa
e fazendo com que muitos pensem até em soluções extremadas. Contudo, ela pode
muito bem ser domada de modo a se tornar suportável e até positiva.
E assim
porque a tristeza é também um encontro da pessoa consigo mesma, através do
afloramento de uma consciência mais realista das situações de vida. E talvez
seja neste aspecto que se diferencia da alegria, eis que esta tem o dom de
maquiar a realidade, tornando as situações quase como aparências.
A tristeza
não encobre nem se distancia de nada, surge nítida, concreta, como um retrato
daquilo que causa a consternação. É tão verdadeira quanto o fato que a motiva.
E talvez o seu grande mérito seja ser sentimento que não admite aparência, que
não admite ser fantasiada. Mas por isso mesmo a possibilidade de ser domada,
contida, dominada e transformada.
E
transformada em tristeza light, ou seja, tornada leve, aceitável, possível de
ser tranquilamente vivenciada. Desse modo, a tristeza light seria o sentimento
aflitivo se transformando em sentimento aceitável por possibilitar um diálogo
mais intimista da pessoa consigo mesma. Ora, não há momento mais apropriado
para o reencontro interior que aquele onde o indivíduo se sente solitário e
triste.
E de
várias maneiras as durezas do instante podem virar o jogo em favor daquele que
se predispõe a vivenciar a tristeza de modo amigável. Fundamental que se
utilize a própria tristeza como arma para combater suas nefastas consequências.
Depois se torna fácil perceber o quanto proveitoso pode ser o seu experimento.
Nesse
passo, a tristeza pela morte de alguém, por exemplo, deve ser enfrentada com a
realidade da vida. Basta não fugir à realidade e será de fácil percepção que
ninguém pode fugir da inevitabilidade da partida. Por mais que seja doloroso,
angustiante, ainda assim fato que mais cedo ou mais tarde acontecerá.
Em
situações de perdas profundamente dolorosas, logicamente que não será possível
repentina transformação das pesarosas circunstâncias. A tristeza é inevitável.
Contudo, será sempre possível compreender o fato dentro de uma lógica que não
signifique o fim do mundo. A partir do instante que se proporcione à morte uma
visão na normalidade da vida, então o dilaceramento será refreado e a
aceitabilidade cuidará de confortar o coração.
O
divórcio, o fim do namoro, a briga de casais, as encrencas amorosas, os ciúmes
doentios, tudo isso pode ser causa de tristezas profundas. Tem gente que diz
que vai se jogar do oitavo andar, outros juram de morte o ex-amor, outros
simplesmente se entregam ao mortal enclausuramento. Mas por que, se o amor
nunca é fim e sempre será possibilidade de recomeço, ainda que com outra
pessoa?
As
tristezas amorosas têm o dom de cegar, de tirar completamente a razão daquele
que se sente traído ou rejeitado. E é por isso mesmo que doem tanto, que
maltratam e machucam tanto. Mas basta que a pessoa procure refletir sem remorsos
ou paixões e compreenderá que nada surge ao acaso, que tudo possui uma razão de
ser. E da reflexão será possível encontrar outras causas da separação e todas
as culpas que permaneciam escondidas. Tal percepção certamente fortalecerá o
espírito para a necessária volta por cima.
A saudade
é o exemplo maior de como a tristeza pode ser light. Basta sentir que a
distância só dói em quem ama e então tudo será suportado. De qualquer modo,
nenhuma tristeza é coisa do outro mundo ou bicho de sete cabeças. E basta uma
cabeça para transformar o outro mundo num mundo possível que se deseje.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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