Rangel Alves da
Costa*
Tenha como
certo que neste exato momento alguém está negociando em seu nome. Esse alguém é
algum político, e o seu nome enquanto eleitor é o objetivo principal do
negócio. Ou negociata, vez que você é vendido sempre às escondidas, em
encontros reservados. O valor acordado você nunca saberá, vez que o negociador
diz seu preço e depois se apodera de tudo, mas certamente não é pouca coisa.
O povo tem
valor inestimável, não pode - ao menos em tese - ser objeto de negociação, de
compra e venda, de acertos ou acordos escusos, mas acaba se transformando em
apenas um preço perante aqueles que se arvoram de seu poder de voto. Dez votos
valem tanto, cinquenta outro tanto, mil ou mais leva a expressiva quantia. E quem
é negociado geralmente nem sabe que está sendo ardilosamente usado pelo seu
presumível dono.
Como o
candidato sabe que é tarefa árdua demais procurar o próprio povo, expor suas
ideias, pedir apoio e até se dispor a ajudar numa receita ou conta de água ou
luz, então vai diretamente ao dono do curral, àquele que supõe seja senhor do
cabresto. Sabe que basta oferecer um presente em números e terá como certo o
apoio. E o negociador dos votos alheios, costumeiramente afirmando mais do que
pode dispor, acaba sempre embolsando muito.
E não
deixa de ser fácil e lucrativo demais dispor e vender o que não lhe pertence.
Usa a condição de liderança política (na maioria das vezes apenas aparente)
para amealhar benesses de todo tipo, eis que valores em dinheiro é apenas uma
parte do acordo de muitas exigências. E depois firma o compromisso com aperto
de mão e repete que o candidato nem se preocupe que as urnas mostrarão o que é
um homem de compromisso. E só tem o voto dele e da esposa, quando muito.
Acaso
chegue ao conhecimento do povo a celebração de acordo político envolvendo
dinheiro, então o negociador logo cuidará de desfazer o mal entendido, aquela
conversa caluniosa para macular sua imagem de político de comprovada honradez.
Mas como não vê saída, pois precisará dizer qual candidato tem seu apoio,
começa a espalhar que celebrou acordo sim, porém pensando no povo, vez que
exigiu do candidato grandes obras e melhorias para a vida da população. Mas não
diz quanto recebeu de jeito nenhum.
O povo
talvez não saiba, mas vale muito na mesa de negociata. Governantes,
parlamentares e líderes políticos sabem muito bem a serventia e o valor que tem
o povo eleitor. Daí que fecham acordos milionários porque o interessado maior
na compra do voto, que certamente será candidato nas próximas eleições, faz a
contagem não pelo número real de peixes, mas pela quantidade afirmada pelo
atravessador.
Mas essas
negociatas em nome do povo não é fato novo, pois remonta aos primórdios da
política brasileira, mas com maior expressão nos tempos do coronelismo. Os
coronéis negociavam seus currais eleitorais como se bichos fossem os eleitores.
E assim eram tratados. Mantidos no cabresto, subservientes às ordens do
poderoso, eis que este conhecia antecipadamente quantos votos seu candidato
teria em cada urna.
Já
naqueles tempos o povo era reconhecido apenas pelo voto que dispunha. Mas como
esse voto não era dele, mas sim do coronel, então o candidato sequer perdia
tempo pedindo apoio. E nem dava importância ao eleitor porque lhe interessava
apenas receber, de porteira fechada, o apoio do coronel. Daí que na varanda do
casarão eram entabulados os acordos. E estes sempre envolvendo muito dinheiro,
empregos, aumento de influências.
O
coronelismo de cabresto e curral não possui mais a feição de antigamente, porém
não deixou de existir. Verdade é que ainda existe muita gente por aí,
principalmente nos redutos interioranos, se dizendo liderança política e
fazendo disso um negócio dos mais lucrativos. A culpa, contudo, não é somente
deles, pois agem astuciosamente para serem acreditados com algum poder de
captação de votos, como lideranças que podem fazer surgir nas urnas grande
número de votos para o seu candidato. O grande culpado de tudo, e por isso
costumeiramente enganado, é o próprio candidato.
E culpado
porque deixa de valorizar a população eleitora em si para pagar caro por
promessas e votos inexistentes. Ora, diferentemente do que ocorria antigamente,
o voto agora deve ser contado de pessoa a pessoa, e não como um curral fechado
com tantas cabeças de eleitores. E são poucos os votantes que continuam com
cega obediência eleitoral aos pretensos líderes, eis que o conhecimento também
trouxe a libertação do voto.
Do mesmo
modo, quanto mais o candidato valorizar a dita liderança em detrimento do
eleitor em si, mais será por este rechaçado. E aquele curral acaba sendo
esvaziado. E bicho solto escolhe o caminho que quiser, ainda que encontre uma
gorda oferta adiante. Dificilmente rejeita, mas também dificilmente votará naquele
que quis comprar sua liberdade de escolha.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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