Rangel Alves da Costa*
Vaidade das vaidades, tudo é vaidade, já
disse o Eclesiastes. É próprio do homem demasiadamente arrogar-se pelo que
possui, daí que insiste em ter muito além de sua medida e de seu merecimento.
Não se contentando em apenas ter, quer simplesmente tudo ter. A preocupação não
é com a satisfação pessoal, mas com a demonstração de que vive adornado de
ostentação.
O homem, mesmo que assim não deseje, é apenas
a sua medida. Não pode ter mais do que possa abarcar, não pode ser além de seu
merecimento. Ora, há a quantidade de água para matar a sede, a porção de alimento para saciar a fome, o
bocado de semente que será plantado na terra, a medida em tudo. E não seria o
homem, cuja racionalidade deveria compreender seus limites, que de tudo deve se
arvorar sem comedimento.
Prega o ensinamento bíblico em Mateus 6 (e
também em Lucas 12) que vãs são as preocupações humanas com aquilo que veste,
bebe ou possui, exigindo um retorno à simplicidade e humildade para o enriquecimento
espiritual e a satisfação com a própria vida. Deixa clara a necessidade de o
homem ser apenas a sua medida para ser reconhecido além do que materialmente
possui.
Ademais, suas ações serão como sementes
deitadas em campo fértil ou improdutivo. No campo fértil o homem cultiva com
sabedoria e proveito aquilo que sua sensatez e coerência permitem como
sementes. No leito infecundo, improdutivo, não haverá grão semeado que
frutifique qualquer coisa que seja proveitoso à vida e ao espírito. Mas a fecundidade
ou não de seu campo cabe ao próprio homem decidir.
O que infelizmente se observa em todos os
cantos e arredores são pessoas preocupadas apenas em alimentar-se de
supérfluos, de coisas artificiais e materialistas. A preocupação com o ter e
querer mais tantas vezes cega o indivíduo para os seus limites, para observar
aquilo que verdadeiramente precisa. E tantas vezes não necessita nem de uma
roupa nova nem de objeto precioso, mas apenas alimentar seu senso humano e
espiritual, de modo que Deus se encarregue de prover todas as suas
necessidades.
Assim em Mateus: "Portanto eu digo: Não
se preocupem com sua própria vida, quanto ao que comer ou beber; nem com seu
próprio corpo, quanto ao que vestir. Não é a vida mais importante que a comida,
e o corpo mais importante que a roupa? Observem as aves do céu: não semeiam nem
colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não têm
vocês muito mais valor do que elas? Quem de vocês, por mais que se preocupe,
pode acrescentar uma hora que seja à sua vida? Por que vocês se preocupam com
roupas? Vejam como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem. Contudo,
eu digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor, vestiu-se como um deles. Se
Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo,
não vestirá muito mais a vocês, homens de pequena fé? Portanto, não se
preocupem, dizendo: 'Que vamos comer?' ou 'Que vamos beber?' ou 'Que vamos
vestir?' Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe
que vocês precisam delas. Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a
sua justiça, e todas essas coisas serão acrescentadas a vocês. Portanto, não se
preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as suas próprias preocupações.
Basta a cada dia o seu próprio mal”.
É preciso, pois, que o ser humano procure
agir para florescer como os lírios do campo. Eles não trabalham pensando
somente em riquezas, em ter além do que precisam para existir com a dignidade
própria de cada ser, e nem tecem pensamentos mundanos ou situações onde o
intuito maior é tirar o máximo de tudo, ainda que esvaziados de sentimentos.
Olhai como são revestidos de graça, imponência e beleza os lírios dos campos.
São mais preciosos que todas as vestes mais preciosas simplesmente porque
revestidos da humildade, da beleza espiritual própria de cada ser.
Ou o ser humano lança o olhar sobre os campos
onde crescem os lírios, e com esta visão seja levado a florir entre eles, ou se
perderá por jardins esturricados, inférteis, cheios de espinhos e sofrimentos.
E os dois terrenos estão, mesmo imperceptivelmente, lado a lado, após os
limites da estrada onde o homem percorre em busca da afirmação de sua condição
humana ou de sua degradação moral. E basta um passo para escolher o campo onde
deseja que brote a semente de seu futuro.
Os exemplos são muitos diante de tais
escolhas. Muitos, despojados de vaidades, arrogâncias e ostentações egoísticas,
caminham felizes e na simplicidade dos que conhecem sua estrada e sabem onde querem
chegar. Mas muito mais apenas seguindo adiante e recolhendo ao redor tudo
aquilo que possa significa riqueza, poder, exageros materialistas. E por tanta
preocupação em ter ainda mais, sequer se lembram de suas sombras solitárias e
empobrecidas.
A verdade é que nem Salomão, com toda sua
riqueza, se fez mais imponente que os lírios do campo. Prova maior que a
modéstia e a humildade no coração possuem suntuoso reinado. O reino do homem
justo e obediente ao que lhe anima o espírito.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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