SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 15 de março de 2014

VIVENDO E NÃO APRENDENDO


Rangel Alves da Costa*


O ser humano é reincidente por natureza. Parece que nunca aprende, nunca se guia pelas lições passadas. Quanto mais erra mais insiste no erro, quanto mais apanha mais gosta de sofrer, e tanto mais padece mais volta à fonte do tormento.
Os exemplos são muitos, e sob todas as formas e contextos. A todo instante se vê alguém reclamando ou lamentando, jurando não mais incorrer em determinado erro, mas no momento seguinte já estará reincidindo, fazendo novamente. E o que é pior: cometendo o mesmo erro. Ou ainda de forma mais grave. Quer dizer, apanha mil vezes do cafajeste e ainda acha pouco, pois sempre retornando aos braços e à palmatória.
O erro praticado e novamente experimentado infelizmente passa a ser visto como normalidade, como atitude rotineira. É por isso mesmo que determinadas pessoas sequer são vistas pelos acertos, mas pelos maiores ou menores desacertos. De tanto errar, acabam vistas como irremediáveis, irrecuperáveis. E não adianta cumprimento de pena, pedido, promessa, que não haverá mesmo jeito.
Não obstante o vício nas más ações, alguns ainda insistem veementemente na negativa dos erros praticados. Os deslizes são cometidos, repetidos, novamente experimentados, mas ainda assim nem atraem a culpa para si nem admitem serem reconhecidos como culpados. E isto ocorre, por exemplo, no erro coletivo ou de grande número de pessoas.
É comum que o reconhecimento do erro não seja suficiente para afastá-lo de sua prática. Pratica mais uma vez na tentativa de acertar, mas acaba novamente errando. E se justificando no costumeiro ditado de que errar é humano, novamente tenta e acaba encontrando desculpas esfarrapadas para a sua contumaz derrocada. E não é difícil dizer que dessa vez não foi culpa sua.
Existem erros que são praticados e depois justificados nos próprios erros. Quer dizer, a pessoa toma uma atitude errada e depois não culpa a si mesma, e sim ao que deu errado. Em casos assim o erro se torna como algo verdadeiro, de existência própria, e o praticante alguém que não teve culpa pela imprevidência na sua ação. É a criação do monstro para em seguida colocar a culpa na ciência.
Na verdade, a grande maioria das ações humanas ou são pensadas para dar errado ou dão errado pelas consequências das ações impensadas. Em primeiro lugar, não pensar na dimensão e nas consequências da ação já é um grande perigo. Em segundo lugar, arriscar para contar com a sorte não é garantia nenhuma, vez que a justa ou boa ação não nasce para milagres futuros. Por último, a cegueira do povo não o deixa avistar o abismo logo adiante.
De repente há que se concluir que somente a cegueira do povo, individual e coletiva, para que tantos erros sejam cometidos. Ainda ouve-se falar em golpe do bilhete premiado, do telefonema dizendo que um parente precisa de um depósito bancário urgente, de pessoas que entregam documentos e números de contas a estranhos. Mas também dos erros passionais, dos desacertos causados pelos vícios, dos comportamentos preconceituosos e discriminatórios.
Contudo, o erro mais evidente e conclusivo está na política. E não há dúvida alguma que tal erro é o mais vergonhoso e repugnante para pessoas ditas racionais, civilizadas, alfabetizadas e até formadas, indivíduos que arrogante e presunçosamente se acham endeusados e melhores em tudo. Tudo isso, mas na hora de votar geralmente se torna reincidente de carteirinha, um contumaz na escolha ou na manutenção do pior.
Citando um caso: repetir o voto no político, mesmo sabendo de suas falcatruas, improbidades e atos corruptivos, e depois viver achincalhando a política, os partidos e o próprio político. Fala mal, desanda a proferir impropérios, mas dificilmente reconhece que a vergonhosa situação da política está assim exatamente pela má escolha dos candidatos, que aquele corrupto foi eleito com sua ajuda, com o seu voto.
Quem quer se responsabilizar diante de tal situação? Absolutamente ninguém. Mas a verdade é que todo mundo erra e depois coloca o erro nos escondidos da memória. Mas como esta é curta demais, de repente tudo estará esquecido. E o erro novamente praticado sem nenhum remorso.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: