Rangel Alves da Costa*
O ser humano é reincidente por natureza.
Parece que nunca aprende, nunca se guia pelas lições passadas. Quanto mais erra
mais insiste no erro, quanto mais apanha mais gosta de sofrer, e tanto mais
padece mais volta à fonte do tormento.
Os exemplos são muitos, e sob todas as formas
e contextos. A todo instante se vê alguém reclamando ou lamentando, jurando não
mais incorrer em determinado erro, mas no momento seguinte já estará
reincidindo, fazendo novamente. E o que é pior: cometendo o mesmo erro. Ou
ainda de forma mais grave. Quer dizer, apanha mil vezes do cafajeste e ainda
acha pouco, pois sempre retornando aos braços e à palmatória.
O erro praticado e novamente experimentado
infelizmente passa a ser visto como normalidade, como atitude rotineira. É por
isso mesmo que determinadas pessoas sequer são vistas pelos acertos, mas pelos
maiores ou menores desacertos. De tanto errar, acabam vistas como
irremediáveis, irrecuperáveis. E não adianta cumprimento de pena, pedido,
promessa, que não haverá mesmo jeito.
Não obstante o vício nas más ações, alguns
ainda insistem veementemente na negativa dos erros praticados. Os deslizes são
cometidos, repetidos, novamente experimentados, mas ainda assim nem atraem a
culpa para si nem admitem serem reconhecidos como culpados. E isto ocorre, por
exemplo, no erro coletivo ou de grande número de pessoas.
É comum que o reconhecimento do erro não seja
suficiente para afastá-lo de sua prática. Pratica mais uma vez na tentativa de
acertar, mas acaba novamente errando. E se justificando no costumeiro ditado de
que errar é humano, novamente tenta e acaba encontrando desculpas esfarrapadas
para a sua contumaz derrocada. E não é difícil dizer que dessa vez não foi
culpa sua.
Existem erros que são praticados e depois
justificados nos próprios erros. Quer dizer, a pessoa toma uma atitude errada e
depois não culpa a si mesma, e sim ao que deu errado. Em casos assim o erro se
torna como algo verdadeiro, de existência própria, e o praticante alguém que
não teve culpa pela imprevidência na sua ação. É a criação do monstro para em
seguida colocar a culpa na ciência.
Na verdade, a grande maioria das ações
humanas ou são pensadas para dar errado ou dão errado pelas consequências das
ações impensadas. Em primeiro lugar, não pensar na dimensão e nas consequências
da ação já é um grande perigo. Em segundo lugar, arriscar para contar com a
sorte não é garantia nenhuma, vez que a justa ou boa ação não nasce para
milagres futuros. Por último, a cegueira do povo não o deixa avistar o abismo
logo adiante.
De repente há que se concluir que somente a
cegueira do povo, individual e coletiva, para que tantos erros sejam cometidos.
Ainda ouve-se falar em golpe do bilhete premiado, do telefonema dizendo que um
parente precisa de um depósito bancário urgente, de pessoas que entregam
documentos e números de contas a estranhos. Mas também dos erros passionais,
dos desacertos causados pelos vícios, dos comportamentos preconceituosos e
discriminatórios.
Contudo, o erro mais evidente e conclusivo
está na política. E não há dúvida alguma que tal erro é o mais vergonhoso e
repugnante para pessoas ditas racionais, civilizadas, alfabetizadas e até
formadas, indivíduos que arrogante e presunçosamente se acham endeusados e melhores
em tudo. Tudo isso, mas na hora de votar geralmente se torna reincidente de
carteirinha, um contumaz na escolha ou na manutenção do pior.
Citando um caso: repetir o voto no político,
mesmo sabendo de suas falcatruas, improbidades e atos corruptivos, e depois
viver achincalhando a política, os partidos e o próprio político. Fala mal,
desanda a proferir impropérios, mas dificilmente reconhece que a vergonhosa
situação da política está assim exatamente pela má escolha dos candidatos, que
aquele corrupto foi eleito com sua ajuda, com o seu voto.
Quem quer se responsabilizar diante de tal
situação? Absolutamente ninguém. Mas a verdade é que todo mundo erra e depois
coloca o erro nos escondidos da memória. Mas como esta é curta demais, de
repente tudo estará esquecido. E o erro novamente praticado sem nenhum remorso.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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