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domingo, 16 de abril de 2017

A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS E O POLÍTICO QUE ROUBAVA TUDO


*Rangel Alves da Costa


O submundo da política brasileira atual não caberia somente numa estante, mas numa imensa biblioteca. Livros e mais livros para contar sobre as tramoias do poder, as roubalheiras políticas, os enredos lamacentos e enlameados de Brasília e adjacências. Em obras cujos títulos revelariam seus putrefatos conteúdos, logo se avistaria a nudez desavergonhada da corrupção em todas as esferas de poder.
Além de títulos novos, muitos outros títulos surgiriam como versões de livros famosos. Ora, obras como “O Poderoso Chefão” (de Mario Puzo), “Os Submundos do Vaticano” (de Morris West) e “O Homem Nu” (de Fernando Sabino), teriam reedições perfeitas com títulos aproximados para mostrar as máfias que se articulam pelos corredores e gabinetes, os lodaçais que alimentam a política e os políticos, os desavergonhamentos de toda uma classe de poder e mando. E “O Príncipe” (de Maquiavel) traduzido em diversos sentidos para mostrar quais os verdadeiros meios e os fins da classe política brasileira.
Neste sentido, “O Menino do Pijama Listrado” (de John Boyne) seria convertido em “O Político do Pijama Listrado”, dessa feita narrando as desventuras de um político corrupto que tem de trocar seu terno importado e seu relógio de ouro por uma roupa listrada de presidiário.
“Alice no País das Maravilhas” (de Lewis Carol) não receberia um título mais apropriado que “A Vida no País das Roubalheiras”, contando a história de um povo que aos poucos vai caindo na toca dos ladrões e ao abrir os olhos avista somente espertezas, corrupções, ladroeiras, lamaçais de todo tipo. Pensa que é fantasia, mas percebe que está num beco sem saída.
“A Menina que Roubava Livros” (de Markus Zusak) certamente seria transmudado para “O Político que Roubava Tudo”, cuidando de um político que enganou até a morte para surrupiar mais algum. Um enredo sobre artimanhas e vilezas de uma política tão gulosa de enriquecimento ilícito que já não admite receber valores senão em caixas e grandes pacotes.
“Brasil, País do Futuro” (de Stefan Zweig) receberia um título digno do que a pátria foi transformada: “Brasil, País sem Futuro”. Neste, ao invés do ufanismo exacerbado, o que se encontraria seria o relato fiel de um país imensamente rico e que se tornou extremamente empobrecido pelas corrupções desenfreadas em todos os setores da vida política e governamental.
“O Ladrão do Tempo” (de John Boyne) receberia a seguinte versão: “O Ladrão do Planalto”. Se no livro original alguém não envelhece por que rouba o tempo, na versão a ladroeira parece eternizada desde a colonização do país, até mostrando um incomparável rejuvenescimento no tempo presente.
“O Ladrão de Casaca” (de Arsène Lupin) caberia em inúmeros títulos perante a realidade brasileira atual: “O Ladrão de Terno”, “O Ladrão de Quatro Dedos”, “O Ladrão Companheiro”, “O Ladrão da Estatal”, “O Ladrão do Caixa Dois”, “O Ladrão da Petrobras”, “O Ladrão do Senado”, “O Ladrão de Brasília”, dentre tantos outros ladrões.
“Colheita Maldita” (de Stephen King) logo se tornaria “Que Colheita Maldita!”, enredo este baseado em colheitas fartas de verbas públicas, de propinas, de caixa dois, de fraudes em licitação, em lobbies, em venda de emendas, mas que depois se mostraram como provas irrefutáveis para condenação de políticos e outros poderosos.
“O Sol é para Todos” (de Harper Lee) receberia o sugestivo título de “O Sol agora é quadrado para Todos”. E seu conteúdo mostrando que todos os políticos, dirigentes, governantes, empreiteiros, ministros, secretários, autoridades, poderosos, todos, indistintamente, de repente podem ser encarcerados e condenados, tendo que trocar as paisagens ensolaradas de seus gabinetes pelas carceragens onde o sol sempre nasce quadrado.
“Os Últimos Dias de Pompéia” (de Edward Bulwer-Lytton) seria transmudado para “Os Últimos Dias de Poder”, narrando os instantes finais da derrocada daqueles que por muito tempo agiram como inexpugnáveis e imunes a todos os tipos de punições pelas roubalheiras praticadas contra os cofres públicos. E uma vastidão de versões para “Ascensão e Queda de um Império”. Não faltariam argumentos para mostrar como os impérios da política e do poder de repente sucumbem pela voracidade ilícita de seus governantes.
Talvez uma imensa biblioteca chamada Brasil. E logo na entrada os seguintes dizeres: Sua delação também pode ser transformada em livro. Então aponte cada um safado que há neste país afundado pelas vilezas do poder corrupto, corrompido e corruptor.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Unknown disse...

Triste realidade desse País, que tinha tanto pra ter dado certo...