*Rangel Alves da Costa
O submundo
da política brasileira atual não caberia somente numa estante, mas numa imensa
biblioteca. Livros e mais livros para contar sobre as tramoias do poder, as roubalheiras
políticas, os enredos lamacentos e enlameados de Brasília e adjacências. Em
obras cujos títulos revelariam seus putrefatos conteúdos, logo se avistaria a
nudez desavergonhada da corrupção em todas as esferas de poder.
Além de
títulos novos, muitos outros títulos surgiriam como versões de livros famosos.
Ora, obras como “O Poderoso Chefão” (de Mario Puzo), “Os Submundos do Vaticano”
(de Morris West) e “O Homem Nu” (de Fernando Sabino), teriam reedições
perfeitas com títulos aproximados para mostrar as máfias que se articulam pelos
corredores e gabinetes, os lodaçais que alimentam a política e os políticos, os
desavergonhamentos de toda uma classe de poder e mando. E “O Príncipe” (de
Maquiavel) traduzido em diversos sentidos para mostrar quais os verdadeiros
meios e os fins da classe política brasileira.
Neste
sentido, “O Menino do Pijama Listrado” (de John Boyne) seria convertido em “O
Político do Pijama Listrado”, dessa feita narrando as desventuras de um
político corrupto que tem de trocar seu terno importado e seu relógio de ouro
por uma roupa listrada de presidiário.
“Alice no
País das Maravilhas” (de Lewis Carol) não receberia um título mais apropriado
que “A Vida no País das Roubalheiras”, contando a história de um povo que aos
poucos vai caindo na toca dos ladrões e ao abrir os olhos avista somente
espertezas, corrupções, ladroeiras, lamaçais de todo tipo. Pensa que é
fantasia, mas percebe que está num beco sem saída.
“A Menina
que Roubava Livros” (de Markus Zusak) certamente seria transmudado para “O
Político que Roubava Tudo”, cuidando de um político que enganou até a morte
para surrupiar mais algum. Um enredo sobre artimanhas e vilezas de uma política
tão gulosa de enriquecimento ilícito que já não admite receber valores senão em
caixas e grandes pacotes.
“Brasil,
País do Futuro” (de Stefan Zweig) receberia um título digno do que a pátria foi
transformada: “Brasil, País sem Futuro”. Neste, ao invés do ufanismo
exacerbado, o que se encontraria seria o relato fiel de um país imensamente
rico e que se tornou extremamente empobrecido pelas corrupções desenfreadas em
todos os setores da vida política e governamental.
“O Ladrão
do Tempo” (de John Boyne) receberia a seguinte versão: “O Ladrão do Planalto”.
Se no livro original alguém não envelhece por que rouba o tempo, na versão a ladroeira
parece eternizada desde a colonização do país, até mostrando um incomparável
rejuvenescimento no tempo presente.
“O Ladrão
de Casaca” (de Arsène Lupin) caberia em inúmeros títulos perante a realidade
brasileira atual: “O Ladrão de Terno”, “O Ladrão de Quatro Dedos”, “O Ladrão
Companheiro”, “O Ladrão da Estatal”, “O Ladrão do Caixa Dois”, “O Ladrão da
Petrobras”, “O Ladrão do Senado”, “O Ladrão de Brasília”, dentre tantos outros
ladrões.
“Colheita
Maldita” (de Stephen King) logo se tornaria “Que Colheita Maldita!”, enredo
este baseado em colheitas fartas de verbas públicas, de propinas, de caixa
dois, de fraudes em licitação, em lobbies, em venda de emendas, mas que depois
se mostraram como provas irrefutáveis para condenação de políticos e outros poderosos.
“O Sol é
para Todos” (de Harper Lee) receberia o sugestivo título de “O Sol agora é
quadrado para Todos”. E seu conteúdo mostrando que todos os políticos,
dirigentes, governantes, empreiteiros, ministros, secretários, autoridades,
poderosos, todos, indistintamente, de repente podem ser encarcerados e
condenados, tendo que trocar as paisagens ensolaradas de seus gabinetes pelas
carceragens onde o sol sempre nasce quadrado.
“Os
Últimos Dias de Pompéia” (de Edward Bulwer-Lytton) seria transmudado para “Os
Últimos Dias de Poder”, narrando os instantes finais da derrocada daqueles que
por muito tempo agiram como inexpugnáveis e imunes a todos os tipos de punições
pelas roubalheiras praticadas contra os cofres públicos. E uma vastidão de
versões para “Ascensão e Queda de um Império”. Não faltariam argumentos para
mostrar como os impérios da política e do poder de repente sucumbem pela
voracidade ilícita de seus governantes.
Talvez uma
imensa biblioteca chamada Brasil. E logo na entrada os seguintes dizeres: Sua
delação também pode ser transformada em livro. Então aponte cada um safado que
há neste país afundado pelas vilezas do poder corrupto, corrompido e corruptor.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
Triste realidade desse País, que tinha tanto pra ter dado certo...
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