*Rangel Alves da Costa
“Eu não posso ver ninguém chorar, porque vem
logo uma vontade em mim, quem foi que disse que não chora por amor e os meus
olhos já chegaram ao fim...”. “Chorando por alguém”, eis o nome deste forró das
antigas pela voz e sanfona de Sebastião do Rojão, num tempo em que o forró e o
baião eram as verdadeiras músicas nordestinas, principalmente sertanejas. Mas
quase tudo acabou, quase tudo foi esquecido nas salas de reboco escurecidas e
empoeiradas. O modismo engoliu tudo e vomitou as misérias que hoje fazem
sucesso e amanhã já não existem mais. Inventaram uma música sertaneja que de
viola caipira nada tem. Inventaram um forró que mais tem safadeza do que
musicalidade. O que restou, então? Apenas ficar chorando por alguém. Um alguém
chamado saudade. Saudade do forró autêntico, legítimo, pé-de-serra, daqueles
que o chinelado levantava poeira, a saia rodava e o suor respingava em meio ao
salão. Saudade da sanfona do mestre Dudu Ribeiro, de Zé Aleixo, de Agenor da
Barra, de Zé Goití. Saudades da Festa de Agosta e os seus forrós por todo
lugar, desde o Bar de Delino ao salão da prefeitura, passando pelo bar de
Messião â casa de Veinha. Poço Redondo era forró em cada porta e em cada canto,
era o som da zabumba e o toque do pandeiro ecoando longe, a sanfona comendo no
centro e a moçada tilintando copo e dando as mãos para os volteios. Saudade do
Forró de Miltinho, saudade de tudo. Por que o que não presta se vai sem deixar
memória, mas o que é raiz sempre deixa saudade. Então, saudoso, ainda ouço na
nostalgia: “Eu não posso ver ninguém chorar, porque vem logo uma vontade em
mim, quem foi que disse que não chora por amor e os meus olhos já chegaram ao
fim. Ai quem me dera eu ver hoje quem eu vi ontem ao meio dia, se eu não visse
a pessoa inteirinha, pois mesmo assim um retrato me servia. Eu só te peço que
volte pra casa, não fique assim no meio da rua, o teu vestido, o teu chinelo é
todo teu, volte pra casa que essa casa é sua...”.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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