SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 5 de janeiro de 2013

PALAVRAS SILENCIOSAS – 127


Rangel Alves da Costa*


“Já ouviu o som do silêncio?”.
“Certamente que sim...”.
“Um som diferente de outros silêncios...”.
“Do silêncio da brisa, do vento...”.
“Sim. Mas também ouço o som de outros silêncios...”.
“O silêncio da brisa ecoa melodia...”.
“Uma música clássica ao cair da tarde...”.
“Barcarolle, um Noturno, talvez...
“A brisa também tem o som de segredo...”.
“Dito baixinho, em murmúrio...”.
“Um dia fiz uma coisa maluca...”.
“O que?”.
“Guardei o silêncio da brisa...”.
“Mas como fez isso?”.
“Esterilizei uma garrafa e recolhi um segredo...”.
“Encantador...”.
“Essa garrafa continua comigo...”.
“E o segredo, já ouviu?”.
“Era segredo, mas um dia...”.
“Um dia não suportou e abriu...”.
“Numa tarde de chuva fininha, saudade, tristeza...”.
“Desculpe, mas qual era o segredo?”.
“Fui abrindo devagarzinho e primeiro saiu lá de dentro um perfume maravilhoso...”.
“Como assim?”.
“Havia esquecido, mas era primavera no dia que guardei o silêncio...”.
“Aroma de rosas, jasmins, violentas...”.
“Perfume suave de jardim primaveril...”.
“E depois...”.
“Depois fui abrindo um pouquinho mais e...”.
“Aproximou o ouvindo da boca da garrafa...”.
“Sim. Lentamente fui aproximando até que ouvi um suave soprar, quase inaudível...”.
“Prossiga, prossiga...”.
“Então ouvi o silêncio da brisa dizer...”.
“Oh, mas não suporto mais...”.
“Disse: Ei, posso confiar em você?”.
“Respondeu que sim. Prossiga...”.
“Respondi apenas que talvez...”.
“Mas por que fez isso?”.
“Pela minha sinceridade...”.
“Mas uma mentirinha não é ofensa alguma...”.
“É sim, principalmente quando se trata da confiança do silêncio da brisa...”.
“Vai acabar colocando tudo a perder...”.
“Não...”.
“Pelo amor de Deus!...”.
“A minha sinceridade foi importantíssima naquele momento...”.
“E então...”.
“Então a vozinha falou...”.
“Falou o que?”.
“Gostei de você, confio em você, por isso mesmo...”.
“Por isso mesmo vou contar um segredo...”.
“Exatamente...”.
“E qual o segredo?”.
“Segredo é segredo...”.
“Essa não!...”.
“Mas vou contar, pois ela não pediu segredo do segredo...”.
“Ainda bem...”.
“Então, ainda mais perfumada, ela disse...”.
“Disse...”.
“Tenho medo do vento...”.
“Medo do vento?”.
“Sim, medo do vento, mas depois segredou por que”.
“E o que disse?”.
“Ela é brisa, é vida, e quando o vento passa...”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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