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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

SOGRA, ESSA COISA... (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


Em primeiro lugar – e urge que se diga -, sogra não é absolutamente nada em termos de parentesco, de laços consanguíneos nem de afinidade. Se pensa que é, deixa de ser e pronto, revoga-lhe qualquer direito. É apenas uma intragável que surge no caminho depois que a pessoa pensou que viveria em paz com sua esposa ou esposo.
Os verbetes dos livros, contudo, insistem em proporcionar-lhe alguma importância. E neste sentido dizem que sogra é a mãe da mulher, relativamente ao genro, ou a mãe do marido, relativamente à nora. A mãe de um dos cônjuges em relação ao outro. Se ficasse só nisso, apenas no lado familiar do lado de lá, da porta de casa pra dentro, ainda ia, mas...
Melhor seria dizer a verdade. E assim deixar claro que sogra é aquela que esquece o marido para querer se intrometer na vida do marido da filha; é aquela que, sempre se abelhudando na vida desta, tudo faz para que o casal viva armado de faca, foice e pistola.
Verdadeiramente, queria saber o que tanto interessa à sogra estar dando pitaco, se enxerindo onde não é chamada, se metendo na vida de um casal. Intrometer-se seria até razoável, mas o problema é que busca sempre semear a discórdia, a intriga, a briga, a separação. E tudo piora quando a filhoca toma as dores da mama.
Ah, porque seu marido bebe, fuma, chega tarde em casa, anda fazendo o que você nem imagina. Porque seu marido ainda não comprou um carro novo, não pintou a casa nem lhe encheu de jóias maravilhosas. Porque seu marido só vive pro trabalho, não liga pra você nem pra sua família. Ele deve ter outra. Tudo isso a sogra vai incutindo na cabeça da filha.
É difícil de imaginar, e muito mais de aceitar, mas existe o dia da sogra: 28 de abril. E preciso urgentemente saber se também existe o dia da cobra, principalmente da cascavel de guizos soltos. Mas coitada da cobra diante da sogra. Por isso mesmo dizem que veneno de sogra aleija o casal para o resto da vida.
Sogra é aquela mansidão de pessoa, fingida, sorrateira, respingando veneno; é o lobo em pele de cordeiro, a cobra por trás da roseira, a maldade espalhando sorrisos, a falsidade em pessoa. Por onde sogra passa o vento não sopra, a brisa não passeia, a natureza fica entristecida. Dizem que foi por isso que a Igreja instituiu o celibatário. O coitado do padre/genro não teria tempo pra mais nada senão exorcizá-la.
Não tendo o que fazer, praticamente abandona sua casa para estar bisbilhotando a casa da filha, e dizendo sempre que marido pão-duro que não compra isso, que mão de figa que deixa e esposa sem o último importado. E coloca na cabeça da outra que exija e exija, afinal de contas sua filhinha merece vida melhor. Quer dizer, vai semeando problemas.
Sogra não é gente. Impossível que a maior inimizade de uma pessoa possa provocar tanto estrago quanto uma mãe que começa a se intrometer na vida de um casal. Achando-se ainda com plenos direitos e poderes sobre a filha, logo começa a impor, dizer que faça assim ou assado. E muitas vezes se intrometendo pessoalmente. É o fim da picada, ou seja, do casamento.
E não é difícil de acontecer que, à moda das cafetinas, seja a própria mãe que queira tirar a filha dos braços daquele que continua pobre – porque sempre foi - para jogá-la nas mãos de um bígamo endinheirado. Quer dizer, além de ser rebaixado pela sogra à insignificância, também é corneado pela ação da dita.
Existem alguns cuidados imprescindíveis que o genro deve ter em relação à sogra. Fazer tudo o que for possível para não encontrá-la; fingir doença ou compromisso urgente todas as vezes que houver algum convite para ir até sua casa; não atender telefone se imaginar ser a dita no outro lado. Sogra ao telefone tem a boca solta demais, é um verdadeiro perigo.
Mesmo que algum encontro seja inevitável, urge fazer de tudo para fugir do seu olhar, de sua aproximação, de estar a seu lado. E logo verá a danada peçonhenta preocupada em avistar, em saber onde está, com quem conversa. E tudo isso para correr até o ouvido da filha e criticar, fofocar, inventar.
Muitas coisas fazem uma sogra ficar radiante, cheia de contentamento. Vai dar gargalhadas se souber que o genro perdeu o emprego. Corre perto da filha e diz que aquilo é pra ela aprender a não se misturar com pé-rapado, e tanto que ela avisou. Será uma glória ao encontrar o genro conversando com uma mulher estranha. Não precisa nem dizer o que fará em seguida, mas sempre jurando ter visto um beijo, um abraço, um pegando na mão do outro.
Contudo, verdade é que nem todas são tão ruins, pois a maioria é ainda pior. Tenho um amigo que se viu bonito, atraente e vigoroso aos olhos da sogra e passou a sentir com quantos paus sem faz uma canoa. A dita querendo vê-lo solteiro, contou tanta mentira à filha que em menos de um mês esta o colocou no meio da rua.
O coitado se viu tão aperreado com a velha no encalço que teve de se mudar. Hoje mora num hospício. Completamente louco. E começa a agonizar, querendo morder e urrar, toda vez que ouve um visitante falar em sogra.
  

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com  

Um comentário:

Ana Bailune disse...

A minha é do tipo sorrateiro... enfia o punhal escondidinho, e dá uma de boazinha. Na frente dos outros, trata-me como uma princesa; por trás, mete os dentes.