Rangel Alves da Costa*
Depois do que ela me revelou, juro que fiquei
sem saber o real significado e a dimensão do termo “ex”. Ora, sempre considerei
que ex é tudo aquilo que já foi, que já assumiu algo e que não está mais na
mesma função, ou ainda um termo para designar um título que não se ostenta
mais.
Os livros ensinam no mesmo sentido. Assim, ex
indica fora de; relaciona-se ao que deixou de ser alguma coisa. Quando unido
por hífen a um substantivo, indica que o nome referido deixou de ser aquilo que
era ou de exercer o cargo ou função que tinha.
Pelo relatado, logicamente que o “ex’ ao qual
ela se referia devia ser escrito com hífen, pois ex-prostituta. O problema todo
é que continuava como prostituta, sobrevivendo dos ofícios da prostituição, mas
se julgava, na atual conjuntura, como ex-prostituta que se tornara
acompanhante.
Dá pra entender? Mas por que assim, se a
mocinha não poderia ter deixado de ser prostituta quando continua se
prostituindo? Então ela também cuidou de dar precisas explicações. Disse que
continuava se prostituindo, mas não exercendo o mesmo ofício de antes, pois
agora de forma diferente e devendo ser reconhecida por outra e moderna
denominação.
Complicou tudo, pensei. Era prostituta de um
jeito e agora é a mesma coisa, só que de outro jeito. Sim, respondeu ela. Hoje
sou ex-prostituta porque deixei de levar a vida daquela maneira, vendendo
favores sexuais em cabarés ou portas de falsas pousadas. E hoje sou a ex que se
tornou apenas prostituta de atendimento vip a clientes.
E continuo dizendo que nem prostituta, no
termo mais vulgar da palavra, era mais. Agora seria mais respeitoso, acaso
fosse necessário reconhecê-la desse modo, chamá-la apenas de garota de
programa. E talvez fosse até pejorativo demais para uma função sexual que
demasiadamente se alastrou e virou status de normalidade na vida de inúmeras
garotas.
E confessou que gostava mais ser conhecida
apenas como acompanhante. Na verdade, até que caberia reconhecê-la apenas como
uma mocinha de vida normal, com o mesmo corpo e as mesmas características de
uma virgem que ainda não descobriu e se entregou aos prazeres da carne, à
volúpia do sexo. Ora, ainda era novinha, bonita, sexualmente apetitosa.
Prosseguiu dizendo que há imensa diferença
entre ser prostituta, ex-prostituta e garota de programa ou acompanhante. A
primeira coisa que se sobressai negativamente é a pecha de puta de cabaré, de
mulher quengueira que abre as pernas pra qualquer um que lhe queira pagar uns
tostões. E viveu isso na pele e por entre as coxas, pois começou na vida ainda
adolescente.
Por mais que a prostituta procure exercer seu
ofício do prazer ofertado apenas nos prostíbulos, continuará sendo a mesma
quenga em qualquer lugar que seja avistada, perante a família, a vizinhança, entre
conhecidos e desconhecidos. E sempre vista como aquela pessoa imprestável,
vagabunda, que outra coisa não faz senão mendigar pelo sexo de qualquer macho.
Com a ex-prostituta a situação já muda de figura,
afirmou. Logo se torna sinônima de força de vontade, de regeneração, ainda que
dificilmente uma quenga vá deixar de vez a prostituição e fechar o balaio
contra as tentações sexuais. Mas certo é que se torna mais valorizada e pode
cobrar bem mais pelo sexo fora das camas podres dos prostíbulos imundos.
Ainda que continue quengando por debaixo dos
panos, a sociedade passa a vê-la com outros olhos, a respeitá-la e acolhê-la, e
assim pode continuar com seu metiê sem o conhecimento de todos. Nesse passo, já
praticamente iguala-se às prostitutas não assumidas, e que são cada vez mais
numerosas.
Contudo, o mais surpreendente foi a revelação
que agora nem como ex-prostituta se comporta mais. Agora era apenas garota de
programa, ou acompanhante, na moderna gíria da prostituição escondida,
disfarçada, levada a efeito sem que o círculo familiar perceba a extensão da
quenguice. E ela apontou diversos motivos e proveitos para se manter assim, uma
prostituta com ares de simples mocinha, uma quenga com feições de estudante
recatada e pessoa séria demais.
Mas disse principalmente que o mais difícil
agora era a concorrência. E concluiu afirmando ter a máxima certeza que há mais
mocinhas sonsas fazendo programas que putas fazendo ponto nos cabarés. Assim
revelou-me C. H. T., 20 anos, prostituta, ex-prostituta, e agora acompanhante.
Ou uma mocinha igual a tantas que andam por aí, como afirmou antes de atender
um telefonema.
Depois retocou a maquiagem, se perfumou, e
saiu apressada.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
2 comentários:
Si los hombres no pagaran por el amor, no existirían las prostitutas.
Pues aunque luego una mujer sea ex prostituta, ese estigma lo llevará siempre con ella y no es justo que aquellos que pagaron por ella luego la desprecien.
Saludos cordiales
Prostituta lixo imundo
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