SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

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terça-feira, 17 de junho de 2014

AS BANDEIRINHAS JUNINAS E O CHEIRO DE MILHO E COCO


Rangel Alves da Costa*


Somente agora, com mais da metade do mês de Junho, as bandeirinhas foram colocadas em todo o trecho de minha rua, no centro da capital sergipana. Noutros anos, já no final do mês de maio e a rua já amanhecia totalmente enfeitada, com as bandeirinhas balançando ao vento, uma verdadeira festa para os olhos.
Não somente os enfeites chegaram atrasados como também os ânimos para os festejos. Por ser um ano de junção entre Copa do Mundo e festas juninas, tudo se unindo numa comemoração só, inicialmente imaginei que tudo seria mais animado, mais convidativo e enfeitado. Mas não, pois nem nas outras ruas se avistava qualquer sinal que indicasse estar em pleno mês do festejo maior para os nordestinos.
Mas enfim as bandeirinhas chegaram, já ouço sua festa perante o sopro do vento, e agora só resta esperar que a vizinhança desperte para o festejo que se aproxima. De qualquer modo, esse ano será muito diferente de outros festejos passados. Ao menos pelo que andei sabendo, esse mês não teremos apresentação de quadrilhas nem trio forrozeiro para animar as noitadas. Quem tradicionalmente organizava tais apresentações abdicou da incumbência e deixou tudo em incógnita.
Com trio forrozeiro ou sem pé-de-serra, com quadrilha ou sem grupos juninos, a verdade é que a festa de São João não pode faltar. Tradicionalmente, esse trecho de rua sempre foi reconhecido com um dos mais animados, enfeitados e festivos nas noites juninas. Além dos moradores que tomam suas calçadas e espalham mesinhas e fogueiras por todos os lugares, um grande número de visitantes e convidados chega para abrilhantar a festança.
Como noutros anos, creio que também neste não faltarão as fogueiras soltando suas labaredas, os braseiros servindo de fogões para carnes, milhos, queijos e até para os batismos simbólicos da época. E ao redor, tomando todos os espaços da rua, as mesas com as iguarias típicas e apetitosas. Uma fartura de gostos, sabores, pedaços e porções que se acumulam nos pratos e vasilhames e que vão fazendo a festa da gulodice.
Por isso mesmo que já sinto a presença daquelas comidas, bebidas e um monte de iguarias que logo mais estarão diante de todos. Não vai demorar muito e as cozinhas estarão preparando as canjicas, os bolos, os milhos cozidos, os licores, o arroz doce, o mungunzá, a pipoca, o quentão. As carnes serão cortadas como para churrasco, linguiças amontoadas, as espigas de milho preparadas para o crepitante braseiro.
Os fogos ainda não pipocam como noutros tempos. De vez quando apenas uma bombinha ou outra. Até mesmo durante o jogo da seleção poucos fogos foram ouvidos pelas redondezas, mas creio que tudo será diferente daqui por diante. A partir desta terça-feira, quando os gols da seleção brasileira forem surgindo, e assim até o final da copa, os ares serão cortados por foguetes, rojões e vulcões. E o verdadeiro clima do São João estará pelo ar em todo seu esplendor.
Enquanto a verdadeira festança não chega, enquanto não vejo a meninada toda animada soltando suas chuvinhas e traques, fico imaginando as mesas colocadas nas calçadas e todas aquelas delícias espalhadas. E dá uma gulodice danada só em pensar em tanta coisa preparada com milho, arroz, coco, açúcar, cravo, canela e um monte de coisas que deliciam até o pensamento. E certamente engordam até a alma.
Não há regime que não peça licença à vaidade e não se deixe esbaldar ao menos por uma ou duas noites. Já vejo o arroz doce sendo despejado no copo ou no prato, a canjica cheirosa recebendo a canela, o mungunzá sendo enfeitado com cravo da índia. E também já me vejo experimentando tudo isso e repetindo a dose, e ainda ávido para saborear o que se estende de lado a outro na grande e farta mesa junina.
E que venha logo o São João, e que eu possa transformar essa vontade em realidades feitas com coco. O regime há de compreender e também querer saborear as sublimes delícias da vida.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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