Rangel Alves da Costa*
No percurso da vida e no contexto da
existência humana, não somos mais que um instante, apenas. Uma vela flamejando
ao vento, uma fagulha apressada. E depois as cinzas no tempo.
Ao homem não foi permitido viver além do seu
tempo próprio, e por isso não lhe cabe pensar em eternidade ou imortalidade.
Apenas viver seu tempo de vida, que é quase nada.
E o homem vive quase nada diante da
infinitude de outras idades. Daí que a duração de sua vida sequer se torna
suficiente para concretizar a maioria de seus planos. Tudo rápido, passageiro
demais.
Viver oitenta, noventa, cem anos ou mais, é
viver muito? Na idade do mundo não seria sequer a fuligem do minúsculo e
invisível pó.
O tempo de duração do homem é tão curto que
saindo de um ponto, o de nascimento, logo vai seguindo para o seu ponto final,
a morte. Mesmo que não se aviste de um ponto a outro, muitos têm pressa de
alcançar.
É ilusão pretender ser grande demais na curta
duração da existência. Os egoísmos, as vaidades, as soberbas e egocentrismos se
vão e permanece ainda viva e imponente a velha árvore relegada ao esquecimento.
E quanto tempo perdido com ostentações egoísticas!
A imensa maioria não aceita, mas no universo
a idade do ser humano tem menor significado que milésimos de segundo.
Praticamente não existe. Quer dizer, o homem é tão passageiro que nenhuma falta
faria na contagem do tempo.
A grande explosão do universo, ou Big Bang,
ocorreu acerca de 13,9 bilhões de anos atrás. A Terra possui cerca de 4,56
bilhões de anos. Os dinossauros foram dizimados da terra há 65 milhões de anos.
E qual a idade do indivíduo diante de números tão grandiosos?
Para se ter outra ideia, há uma idade antes e
depois de Cristo. Há uma idade da pré-história ao mundo contemporâneo. E tudo
isso implica numa imensidão de anos. E qual a idade do homem no seu percurso de
existência?
A vida humana é apenas um limite, um instante
entre o nascer e o morrer. Por mais que esse instante se alongue, ainda assim será
muito pouco diante do permitido pela vida a outros seres.
Da infância à velhice, apenas um rápido
percurso. E o velho lembra como se fosse ontem de sua infância, eis que sequer
houve tempo de esquecer.
Não importa que o indivíduo viva poucos dias
ou ultrapasse os cem anos. Ainda assim terá vivido quase nada. E como tal logo
será esquecido. E assim acontece porque o tempo histórico, os percursos e as
rápidas transformações vão devorando tudo.
Ora, se o golpe militar parece que foi ontem
e já se vão cinquenta anos; se o fim do século parece que foi ontem e já se vão
quatorze anos; se a ceia de fim de ano parece que foi ontem e já se vão cinco
meses, então que se imagine um mero tempo de vida nesse contexto.
Contudo, se por um lado a vida humana não vá
além de um instante, não significa que não possa ser vivida de forma que se
prolongue na própria história. E mesmo a morte não consiga apagar os rastros da
existência.
Igual a todo ser, o tempo de vida de
Einstein, por exemplo, foi apenas de um instante. Igualmente o de Leonardo da
Vinci, Gandhi e tantos outros. Mas o que eles fizeram com os instantes de suas
vidas?
Isto demonstra que os instantes da vida podem
e devem ser aproveitados de tal modo que nada consiga apagar a felicidade e o
prazer de tê-los vivido. E o reconhecimento possa se eternizar.
Eis o grande segredo: reverter a vida como
instante para uma vida vivenciada a todo instante. Ou ainda persistir para que
cada instante da vida se torne num grande momento. E até com feitos que se
perpetuem.
De qualquer modo, jamais deixe de fazer e até
sonhar sob a alegação de que a vida não passa de um instante. Imagine-a, sim,
como instante, mas cada um que você possui para eternizar suas realizações.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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