Rangel Alves da
Costa*
A
filosofia, por mais que tivesse aprofundado seu estudo ao longo dos tempos,
jamais alcançou um entendimento pacífico acerca do seu surgimento. Comumente se
tem que a mesma nasceu a partir do instante em que os primeiros filósofos -
pré-socráticos - procuraram compreender a imensidão do universo não a partir da
realidade visível, mas da essência, das causas primeiras para sua existência. O
seu conceito também jamais foi consensual. Do mesmo modo, suas bases e
fundamentos possuem vertentes diferenciadas segundo o alcance que se pretenda
dar ao seu estudo.
Uma coisa
parece ser unânime no estudo da filosofia. Sua base de investigação nasceu
diante das infindáveis indagações surgidas acerca do universo. A escultura de
Rodin, O Pensador, talvez seja a visão mais aproximada do ato filosófico de
pensar o mundo. Foi através do pensamento e não da escrita que os primeiros
filósofos surgiram tentando compreender e dar explicações sobre o universo e
tudo aquilo existente nas sombras de sua imensidão.
Contudo,
propor explicações para aspectos surgidos apenas como suposições não era tarefa
fácil. Daí o aprofundamento cada vez maior para entender a raiz de tudo e
assim, explorando seus aspectos exteriores, possibilitar uma possível
explicação sobre a existência dos seres e das coisas. Contudo, tudo envolto em
muitas contradições e discordâncias.
Dessa
primeira visão acerca do universo, o próprio universo da filosofia foi se
expandindo em busca de outras explicações. Nesse passo, tudo ao redor do homem
passou a ser objeto de investigação filosófica. Como uma das máximas da
filosofia é buscar a compreensão da causa primeira das coisas, os estudiosos
passaram a oferecer ao mundo conceitos, ainda que na maioria das vezes inconsistentes,
sobre o homem, a natureza, tudo enfim.
Por muito
tempo a filosofia se baseou no homem com ser natural e influenciado pelo meio e
pela religiosidade. O pensamento filosófico moderno procurou situar o homem
como ser universal e estabeleceu uma nova forma de estudá-lo, agora baseada na
racionalidade e na comprovação científica. As meras indagações passaram a dar
lugar a estudos e experimentos mais aprofundados em busca da máxima certeza.
Contudo,
novos pensamentos filosóficos foram surgindo muito além da busca da
racionalidade humana. Procurou-se, a partir de então, estender a filosofia para
vertentes até então inimagináveis, numa verdadeira ruptura com o tradicional, e
assim todas as relações da vida passaram a ser objeto da filosofia. Os novos
cenários surgidos e os avanços tecnológicos também não foram esquecidos. O que
se tem hoje é uma tentativa de repensar toda a trajetória empreendida e
apontando novos limites para o pensamento filosófico.
Contudo,
repensar a filosofia e impor novos horizontes não é tarefa fácil,
principalmente pelo arcabouço que já foi produzido desde os tempos antigos,
desde o seu surgimento. O primeiro desafio da filosofia foi fugir do mito como
explicação do universo para impor explicações plausíveis. Os estudiosos gregos
debatiam em praça pública e academias suas razões para a existência das coisas.
Tais
debates ganhavam força pelos argumentos ali defendidos. Neste momento se deu o
surgimento da lógica como forma de argumentar com coerência e racionalidade e
permitindo que as explicações praticamente não pudessem ser refutadas. Tais
argumentos lógicos foram primeiro utilizados pelos filósofos pré-socráticos ou
cosmológicos. Estes, ao se voltar para a compreensão do universo, passaram a
estabelecer as questões primeiras da filosofia: O que é o ser? O que é o
movimento? Por que a existência assim e não de outro modo? E assim por diante.
Atualmente,
a lógica talvez não tivesse força suficiente para explicar e justificar as
realidades do mundo e da vida. Seria difícil demais argumentar acerca da
regressão humana ao estágio do barbarismo, sobre a prevalência da
irracionalidade em todas as situações que exigem o uso da razão, acerca do
fanatismo religioso como arma mortal para intimidar e devastar a vida. Não sei
se seria possível, por mais que se aprofundasse em possibilidades, dizer o
porquê de o homem desumanizar-se cada vez mais.
O
pensamento filosófico de hoje é o do espanto, da incompreensão e até do medo.
Não há lógica na existência humana que permita compreender como o elevado nível
de conhecimento alcançado não consegue fazer com que o homem aprenda a
simplesmente viver. Eis o abismo da filosofia. Ou do homem.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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