Rangel Alves da Costa*
Não faz muito tempo que cheguei do mercado.
Aqui pertinho, cerca de dois quilômetros, fui andando para aproveitar o belo
instante da manhã sem o calor escaldante de logo mais. Aliás, enquanto escrevo
já sinto o sol avançando sobre tudo e a fornalha do dia sendo aberta. E nada de
chuva.
E saí cedinho, antes mesmo de o mercado
abrir, porque é ao redor de sua entrada principal, pela área cimentada de
acesso, onde é possível encontrar a fruta quase tirada do pé ou recolhida do
chão. Ali a verdadeira fruta do mato. E fruta do mato porque nascida rente aos
quintais, em árvores frutíferas crescidas sem ter que a mão do homem lançasse
qualquer semente. Por isso fruto somente avistado quando vem a estação.
Felizmente, ainda restam lugares onde as
árvores frutíferas despejam suas dádivas a cada período do ano. O homem ainda
não conseguiu providenciar a cruel devastação, a mão humana ainda não lançou
mão do machado ou da serra elétrica para derrubar aquele alimento e amparo
econômico. Na verdade, mesmo o pouco arrecadado com a venda acaba se tornando
de suma importância para famílias empobrecidas e relegadas pelos poderes.
Creio que logo após a madrugada aqueles
vendedores chegam espalhando seus cestos, latas, baldes e sacos, cheios de
mangaba, goiaba, mamão, caju, abacate, graviola, manga, jenipapo e toda fruta
que surgir na estação. É preciso aproveitar porque o período é curto e de
repente ninguém mais encontra uma manga sequer. Passa algum tempo sem nada ser
avistado e de repente aquele amarelado doce, saboroso, perfumado, surge como um
sorriso ao olhar.
Como dito, são frutas quase tiradas do pé
mesmo, pois chegam bonitas, olorosas, cheirosas, trazendo ainda folhas e outros
fiapos de mato. Depois de encobrir o chão com um pedaço de lona, vão espalhando
os molhos ou mesmo deixando tudo no cesto para que a pessoa escolha. E os
preços são diferenciados por causa disso, vez que se a escolha for pessoal o
preço é um pouco maior.
Tais frutas chegam diretamente de pomares,
roças e plantações localizados nos arredores da capital sergipana, de sítios e
pequenas propriedades em municípios vizinhos como Barra dos Coqueiros, São
Cristovão, Santo Amaro, Pirambu e outros. Os vendedores acordam ainda com tempo
escuro e na madrugada já estão com seus produtos prontos para a viagem. E logo
chegam ao mercado central de Aracaju.
Chegando ao mercado, têm de acomodar suas
colheitas do lado de fora. E assim porque chegam cedo demais e não é permitido
que adentrem ao local para comercializar seus produtos nem que permaneçam
defronte à entrada após as seis, quando os portões são abertos. A partir desse
horário os fiscais chegam enxotando para que se afastem. Então vão para o outro
lado da rua e continuam vendendo o que ainda resta.
Não podem permanecer defronte ao mercado para
não competir com os vendedores do local. E estes, mesmo comercializando frutas
já adormecidas, cobram preços verdadeiramente absurdos para um mercado central.
O que aqueles ambulantes vendem por dois reais lá dentro não sai por menos de
cinco. Mas tem gente que prefere pagar muito caro de banca em banca. Eu não,
pois aprecio não só a fruta fresca como o preço acessível. Sem falar que a cada
compra uma ajuda importante é repassada àqueles que madrugaram para chegar até
ali.
Pena que eles não trazem melancia, minha
fruta preferida. Mas nesta manhã fiz a escolha de outra espécie que tenho como
adoração: manga. Logo avistei aquelas delícias olorosas espalhadas por cima da
lona. Cinco por dois reais, ou mesmo seis, dependendo da quantidade da compra.
E saí de lá com uma boa quantidade e já pensando no instante de morder aquela
doçura, explorar cada fiapo da casca.
Ao menos durante os três próximos dias terei
muita manga para dar outro sabor à vida. Mas fico entristecido só em saber que
tão curta é a sua estação. E já está no fim.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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