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segunda-feira, 9 de março de 2015

MANIPULAÇÃO E FANATISMO


Rangel Alves da Costa*


Tanto a manipulação como o fanatismo se presta a um só fim: a cegueira perante a realidade. Mas chegando a isto por estágios diferentes de um mesmo caminho. Enquanto a manipulação age para distorcer a realidade, o fanatismo vai aceitando passivamente tal distorção. E não apenas aceita como faz do engodo uma defesa de fé.
Os conceitos deixam induvidosos os entrelaçamentos entre manipulação e fanatismo. Tem-se a manipulação como o ato de persuadir, de convencer o outro para que acate suas pretensões. Significa influenciar a pessoa de tal modo que esta deixa de refletir por si mesma e despojar-se de toda crítica pessoal e social, para fervorosamente abraçar e defender o que lhe é incutido como correto.
A partir daí o manipulado passe a ter uma falsa consciência de toda realidade, eis que somente válida aquela que lhe foi imposta. A realidade passa, então, a ser aquela que lhe foi incutida, mentalmente trabalhada. E o indivíduo que vai aceitando o jogo do outro, por falta de conhecimento da realidade ou porque fácil demais de ser atraído e manejado, passa a ser um fantoche, um mero bibelô das pretensões quase sempre escusas daquele. É o estágio aonde se chega ao fanatismo.
E fanatismo pode ser conceituado como defesa intransigente de crenças e opiniões. Mas defesa não de forma racional, correta, a partir de pontos de vista coerentes ou de teorias, mas de forma vaga e despida de qualquer caráter de plausibilidade. Ora, o fanático não enxerga além da falsa realidade que lhe foi forjada. Como um ser que passa a enxergar somente um caminho, sempre numa só direção, sequer se preocupa com o que se passa ao redor, pois importa somente avistar o que ao outro interessa. Além disso, cuida também de defender a escolha do caminho errado. E faz isso com desmedida intransigência.
A pessoa verdadeiramente cega diante da causa, não aceitando conceito divergente senão aquele que acredita. O fanático abraça sua causa de tal forma que pouco lhe importa que esteja sendo iludido, enganado, ludibriado. Por consequência, acaba valorizando muito mais a causa defendida do que o próprio valor que esta possa possuir. Não há medida no fanatismo, pois defendido exageradamente, numa passionalidade tal que a pessoa passa a viver da lealdade àquela crença.
O fanatismo é fruto da manipulação. Nenhum fanático chega ao patamar da paixão se não for levado a tal por meios inteligentes, porém sempre ardilosos e maquiavélicos. Como não é todo mundo que se presta ao fanatismo, vez que a racionalidade, a inteligência e o senso crítico, não se deixam ludibriar com facilidade, então a manipulação se volta para aqueles de menor raciocínio, geralmente pessoas menos cultas, iletradas e em situação de vulnerabilidade social. Entretanto, não é difícil que pessoas letradas e até críticas se fanatizem por conveniência.
Um exemplo claro de como pessoas presumivelmente inteligentes se deixam fanatizar facilmente pode ser avistado no meio político-partidário. Jovens que saíram dos bancos acadêmicos, profissionais liberais e até intelectuais, de repente passam a defender bandeiras partidárias com tal fervor que mais parece uma cause de sustentação da vida. Como acontece no momento presente, onde o PT se tornou sinônimo de lamaçal e corrupção, não é difícil encontrar aqueles que são capazes de brigar em nome de sua bandeira, de sua honradez e honestidade. É um fanatismo que chega às raias da insanidade.
Também a religião possui o poder sem igual de fanatizar. Por medo dos pecados ou por instinto de fé, a verdade é que as pessoas muito religiosas, principalmente nas regiões interioranas mais distantes, são facilmente manipuladas pela própria religião, através dos sacerdotes. E assim ocorre também com aqueles que se convertem às novas religiões e de repente se transmudam de tal forma que parecem ter recebido lavagem cerebral. Os pastores das igrejas evangélicas, batistas e protestantes, manipulam de tal modo a mente acrítica e fragilizada dos fiéis que acabam os tornando verdadeiros alienados. Mas os fins da manipulação nem sempre se voltam apenas para a afirmação da fé, tendo objetivos muito maiores.
E os objetivos do fanatismo, principalmente o de cunho religioso, se voltam sempre para a incapacitação do indivíduo. E quando este não mais responde por si mesmo, mas tão somente pelo que lhe ordenam, então a própria sobrevivência é negada em nome do interesse escuso do manipulador.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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