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sábado, 28 de março de 2015

MENTE: REALIDADE E SIMULAÇÕES


Rangel Alves da Costa*


A mente humana é capaz de transformar realidades em representações. Significa dizer que ela pode transcender o que vê para dar uma significação própria. Simulando outras realidades a partir de uma dada realidade, de repente tem num objeto visualizado algo impossível de percepção por qualquer outra pessoa.
Citando um exemplo. Um olhar que se depara com um campo devastado pela seca pode não ser fotografado pela mente como uma paisagem acinzentada, de galhos tortos, folhas mortas, vegetação esturricada pelo sol. Indo além, aquela realidade pode surgir como outro retrato na mente: pessoas raquíticas, crianças esqueléticas, panelas vazias, fome e sede, tristeza, dor e sofrimento.
Quer dizer, aquela realidade foi simulada pela mente, que a representou segundo sua percepção própria. E assim também em todas as situações de vida onde as realidades são traduzidas segundo a perspectiva mental de cada. Logicamente sendo influenciada pelo próprio ambiente, o estado de espírito, as experiências vivenciadas e as lições aprendidas. Tais aspectos configuram o que se denomina Modelos ou Representações Mentais.
O conceito de Modelos Mentais ou Representações Mentais surgiu com o filósofo e psicólogo Kenneth Craik, no livro The Nature of Explanation (A Natureza da Explanação). Segundo Craik, o ser humano traduz os elementos do ambiente em modelos mentais, manipulando suas representações simbólicas. Assim, um modelo mental é, antes de tudo, uma representação dinâmica ou uma simulação do mundo.
Os modelos mentais possuem dois aspectos importantes: Um primeiro aspecto no sentido de que o conhecimento do passado na junção com o presente acaba influenciando a ação da pessoa. E o segundo no sentido de que os modelos mentais socialmente adotados acabam influenciando nos modelos mentais dos indivíduos.
Os modelos mentais são diferentes de indivíduo a indivíduo. A imagem que um tem sobre um objeto pode não ser a mesma que outro sujeito possui sobre o mesmo objeto. E não são fixos, pois se modificam em resposta às mudanças do ambiente. Por não serem fixos, podem ser manipulados para transmudar realidades em outras. As pessoas deixam de negar determinadas realidades porque foram influenciadas para agir assim.
Logo se percebe a grande utilização dos modelos mentais na política, como forma de manipulação do eleitorado ou forçando o seu convencimento de realidades inexistentes. As mentes votantes são trabalhadas para cegar determinados aspectos e validar outros inexistentes. A realidade é mostrada de forma deturpada, de modo que a representação desejada faça surgir outra realidade que se ajuste às intencionalidades eleitoreiras.
Os modelos mentais também podem ser utilizados nas organizações empresariais. As empresas devem modificar a percepção mental de seus colaboradores toda vez que quiser inserir mudanças, sob pena de não aceitação da mudança. Quer dizer, a organização deve procurar moldar o novo modelo na mente de seus funcionários a partir da quebra de paradigmas anteriores.
O indivíduo enquanto sujeito que pretende mudar seu jeito de ser ou sua postura perante a sociedade e o mundo, também pode se utilizar dos modelos mentais. Para tal, deve incutir em si mesmo que sua postura não vem a sendo a correta e que por isso mesmo tem de se transformada. E, a partir da negação de determinadas atitudes, ir confirmando outras como escolhas de vida.
A finalidade, pois, das representações mentais são mudanças. Como as mudanças sempre implicam resistências, a persistência será a arma mais eficaz para a transformação. Ora, nenhuma caixa preta de avião é preta, e sim de forte alaranjamento. Contudo, a cor preta está representada de maneira de forma tão consistente no indivíduo que raramente alguém percebe sua verdadeira cor. Tudo porque a mente foi simulada para tal.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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