SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 11 de março de 2015

PALAVRAS SILENCIOSAS – 909


Rangel Alves da Costa*


“Limpo o jardim...”.
“Mas as ervas daninhas insistem em brotar...”.
“Varro a casa...”.
“Mas a sujeira chega de todo lugar...”.
“Pinto a parede...”.
“E já passam sujando...”.
“Fecho a porta e a janela...”.
“Mas de repente já estão abertas...”.
“Elevo o muro...”.
“Mas pulam com facilidade...”.
“Troco a fechadura...”.
“Mas entram assim mesmo...”.
“Coloquei cerca elétrica...”.
“Mas nada produz resultado...”.
“Chega-me o jornal...”.
“Sempre faltando páginas...”.
“Levaram meu banco de jardim...”.
“Minha flor da manhã...”.
“Meu caqueiro de umbral...”.
“E minha carteira...”.
“Não sei mais o que fazer...”.
“Chamo a polícia...”.
“Mas o bandido se antecipa...”.
“Quando a polícia chega...”.
“Tenho de dizer, de dar explicações...”.
“Como seu ei fosse o acusado...”.
“Estivesse roubando de mim mesmo...”.
“Sendo ladrão do que já não tenho...”.
“Não sei mais o que fazer...”.
“Entraram na casa vizinha...”.
“Roubaram tudo...”.
“E levaram também os vizinhos...”.
“Não sem antes...”.
“Tomar dois vinhos importados...”.
“E um uísque já sem data...”.
“Mataram o cachorro...”.
“Rasgaram um Di Cavalcanti...”.
“Deixaram as torneiras abertas...”.
“E jogaram um bilhete por cima do muro...”.
“Do muro de minha casa...”.
“Dizendo que eu seria o próximo...”.
“E que queria salmão...”.
“E vinha da safra de 84...”.
“E notas em maço de cem...”.
“E que fariam a visita no outro dia...”.
“Por isso que estou na rua...”.
“Enquanto a casa está à espera dos donos...”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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