Rangel Alves da Costa*
Cuidado da próxima vez que você chamar alguém
de petista, pois poderá estar incorrendo em crime. Ora, se petista virou
sinônimo de ladrão, logicamente que você estará cometendo um crime contra a
honra, de feição penal e com repercussão no cível. A não ser que o petista
reconheça que ele próprio e seu partido realmente estão mais para quadrilha que
qualquer lamacenta agremiação partidária. Mas uma das proezas do petismo é
negar tudo sobre tudo.
Contam que numa discussão política um
sujeito, mostrando-se totalmente indignado com a corrupção que vem assolando o
país, olhou no olho do outro e disse: “Você não passa de um petista!”. Então
este se sentiu ofendido e entrou em estado de fúria: “Está me chamando de
ladrão é, está me chamando de ladrão é? Vou processar você porque me chamou de
petista. Posso ser tudo, mas ladrão nunca fui e nem sou”.
Foi daí em diante que a tipificação criminosa
começou. A situação é tão feia para o lado dos companheiros que não há
militante, mesmo aqueles fervorosamente apaixonados, que queira ser chamado de
petista. Igualmente ao cidadão da discussão, eles não conseguem deixar de
reconhecer que ser chamado de petista é o mesmo que ouvir que é ladrão,
corrupto, larápio, desonesto, meliante da coisa pública. E também privada.
Como os companheiros tentam a todo custo
defender uma honra que não possuem, então abraçaram a própria mácula, a própria
desonra, como defesa. Sempre finórios, espertos, já pensam em ganhar um
dinheirinho a mais com a ladroeira do seu partido. Desse modo, bastam ouvir que
estão sendo chamados de petistas e já dizem que vão prestar Boletim de
Ocorrência. Ora, foram chamados de ladrões.
Prestado o BO, o passo seguinte é que o
inquérito chegue à justiça como crime contra a honra, por injúria, calúnia e
difamação. A calúnia porque alguém falsamente imputou-lhe a prática de algo
definido como crime (crime de roubo, porque todo petista é ladrão). Difamação porque sua reputação está sendo
ofendida (o nome na lama porque ninguém mais o reconhece como um militante ou
partidário, mas apenas petista, ou seja, ladrão). E injúria porque sua
dignidade e o seu decoro estão sendo atacados (por onde passa é chamado de
petista, quando sabe o que isso significa).
Acaso consiga provar – e empreitada
dificílima – que nem todo petista é ladrão, e o acusador seja condenado pela
prática de crime contra a honra, então será a vez de pensar em dinheiro. Não
sei por que, mas não há ninguém no mundo que goste mais de dinheiro do que
petista, principalmente se for dos outros, da nação ou que chegue com aquele
cheirinho típico de lama avermelhada. Então diz que agora vai processar também
por danos morais no cível.
O que começou apenas com um chamando o outro
de petista, depois da esfera criminal do crime contra a honra, agora é a vez da
indenização por dano moral. Além da sentença afirmando que há fortes indícios
que nem todo petista é ladrão, apenas a maioria, e principalmente a nata do
partido, o que vai se provar na indenizatória é que perdeu sua paz, teve seu
ânimo espiritual fraquejado e sofreu até abalo psíquico por ser chamado de
petista. E ele é petista, mas não ladrão. E dói muito ser chamado de ladrão por
onde passa.
E se o juiz perguntasse à suposta vítima:
“Você é petista?”. E ele respondesse: “Sou, Excelência, mas não sou ladrão
não”. E o juiz rebatesse: “Mas não perguntei se você é ladrão, apenas se é
petista. Você é petista?”. “Mas Excelência, não tenho culpa se outros roubam,
se todo mundo do partido rouba. Ninguém pode nem dizer que não, pois todo mundo
sabe pelo jornal e televisão. Teve até gente presa por causa disso. Mas eu sou
diferente, eu nunca fiz isso...”. Eis a resposta. Então o juiz calcula
mentalmente a pergunta: “Então você não é petista?”. Ao que o outro
impensadamente responde: “Sim, sou petista”.
“Então é ladrão. E está encerrada a
audiência. E onde está minha carteira que estava aqui?”.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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