Rangel Alves da Costa*
O nosso tempo possui mais questões e
problemas do que imagina qualquer filosofia. Mesmo sendo um tempo de avanços
inimagináveis nas ciências e no conhecimento, ainda assim um tempo de métodos e
ações tão antiquadas quanto o primitivismo humano.
No passo da estrada, o que infelizmente se
constata é uma evolução ao abismo. As conquistas primordiais não conseguem
afastar o homem desse caminho ao penhasco de sua própria ignorância, cegueira e
vilania. Em meio a todas as estradas, sempre prefere aquela que contradiga o
bom senso e a racionalidade.
Os impulsos científicos e tecnológicos não
produziram qualquer consequência útil à mente humana. O homem se rodeia do
moderno mas continua com a mentalidade muito aquém do seu tempo. Adiante dos
olhos o vislumbre, a tecnologia desafiadora, porém interiormente a cegueira
continua latente.
Em muitas situações avistam-se regressões
absurdas. Quando se imaginava que o instinto selvagem era coisa do passado, do
homem das cavernas vivendo entre feras, eis que o sujeito moderno se bestializa
de forma ainda aterradora. O ser bruto e violento continua agindo
desenfreadamente.
Do mesmo modo, o novo parece não ter feito
muito bem ao homem moderno. Saiu da cartilha, da palmatória, do castigo no
canto da sala, mas jamais aprendeu ler o livro da vida. Deixou de ter aulas de
religião e de folhear as lições do catecismo e hoje sequer entra numa igreja.
Diz que não tem tempo para Deus, apenas para si mesmo.
Antigamente o homem vivia em ambientes com
mais presença da natureza e sabia respeita os recursos naturais. Depois teve
que aprender na escola as consequências da degradação ambiental, da destruição
da natureza e do que está reservado à humanidade com a continuidade da
devastação. Mas não aprendeu, apenas decorou e sequer se incomoda que um rio
morra ou não.
A violência moderna supera todas as
brutalidades passadas. O homem sempre foi violento, matou para sobreviver,
destruiu vidas para demarcar e defender territórios, guerreou fazendo escorrer
rios de sangue. Inadmissível sob todos os aspectos, mas havia uma motivação. Mas
o homem moderno simplesmente viola a vida alheia por violar, pelo prazer da
ação bestial.
Não é do ser da caverna não, mas do homem do
mundo novo que a valorização da vida se reduziu a nada. Ora, tanto faz matar um
como cem de uma só vez. O que o terrorismo e o fundamentalismo fazem senão
tratar a vida como algo sem qualquer significância? Passam a espada em
inocentes como se estivessem brincando, fuzilam indefesos como se estivessem
treinando para uma guerra maior.
É um tempo sem limitações humanas, mas quase
sempre de forma negativa, temerosa, apavorante. A segurança pública
profissionalizou-se, mas muito mais o bandido, o ladrão, o meliante de esquina.
E a bandidagem nunca duvida sobre o que tem mais valor, se um objeto ou vida.
Leva o objeto e deixa a pessoa sem vida.
O homem moderno não só está infinitamente
mais violento como também mais covarde, passivo, submisso por desejo próprio.
Ao menos no caso brasileiro, o que se tem é um povo que se compraz com o sofrimento,
com a escravização aos ditames políticos e governamentais, com a avalização de
tudo de ruim que lhe aconteça. Ora, reclama agora e amanhã já estará defendendo
apaixonadamente os mesmos partidos e políticos.
Um tempo novo e de desaparecimento dos laços
familiares, do respeito dos filhos para com os pais, do descaso destes para com
os seus. Filho, dono do mundo e da vida, sequer diz aos pais por onde e com
quem anda, o que faz ou o que evita fazer. Pais que não reconhecem os filhos,
filhos que negam a existência dos pais. E assim tudo sucumbe no seio familiar.
E que tempo novo e de novidades. A cada dia o
surgimento de uma nova droga e o aumento do número de viciados. Quarteirões
inteiros tomados de drogados, traficantes e míseros usuários. E a vida acontecendo
ao redor sem que nada daquela degradação de vida mereça uma ação enérgica das
autoridades e poderes públicos. A preocupação sempre chega tardia, e apenas
quando o problema já está dentro de casa.
Contudo, a constatação maior do caminho ao
abismo é a passividade como o ser humano trata questões que o aflige e a toda
população, bem como o seu sentimento de aceitação dos absurdos surgidos a cada
dia. Ao aceitar o desandar de tudo, logicamente que jamais abrirá a boca ou
dará um passo para lutar por algum direito ou contestar a tirania do mundo.
Eis o mundo novo. Novo e assustador. E que
certamente será destruído pelo acúmulo incessante de novidades negativamente
assimiladas por todos.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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