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domingo, 26 de abril de 2015

O MUNDO E A EVOLUÇÃO AO ABISMO


Rangel Alves da Costa*


O nosso tempo possui mais questões e problemas do que imagina qualquer filosofia. Mesmo sendo um tempo de avanços inimagináveis nas ciências e no conhecimento, ainda assim um tempo de métodos e ações tão antiquadas quanto o primitivismo humano.
No passo da estrada, o que infelizmente se constata é uma evolução ao abismo. As conquistas primordiais não conseguem afastar o homem desse caminho ao penhasco de sua própria ignorância, cegueira e vilania. Em meio a todas as estradas, sempre prefere aquela que contradiga o bom senso e a racionalidade.
Os impulsos científicos e tecnológicos não produziram qualquer consequência útil à mente humana. O homem se rodeia do moderno mas continua com a mentalidade muito aquém do seu tempo. Adiante dos olhos o vislumbre, a tecnologia desafiadora, porém interiormente a cegueira continua latente.
Em muitas situações avistam-se regressões absurdas. Quando se imaginava que o instinto selvagem era coisa do passado, do homem das cavernas vivendo entre feras, eis que o sujeito moderno se bestializa de forma ainda aterradora. O ser bruto e violento continua agindo desenfreadamente.
Do mesmo modo, o novo parece não ter feito muito bem ao homem moderno. Saiu da cartilha, da palmatória, do castigo no canto da sala, mas jamais aprendeu ler o livro da vida. Deixou de ter aulas de religião e de folhear as lições do catecismo e hoje sequer entra numa igreja. Diz que não tem tempo para Deus, apenas para si mesmo.
Antigamente o homem vivia em ambientes com mais presença da natureza e sabia respeita os recursos naturais. Depois teve que aprender na escola as consequências da degradação ambiental, da destruição da natureza e do que está reservado à humanidade com a continuidade da devastação. Mas não aprendeu, apenas decorou e sequer se incomoda que um rio morra ou não.
A violência moderna supera todas as brutalidades passadas. O homem sempre foi violento, matou para sobreviver, destruiu vidas para demarcar e defender territórios, guerreou fazendo escorrer rios de sangue. Inadmissível sob todos os aspectos, mas havia uma motivação. Mas o homem moderno simplesmente viola a vida alheia por violar, pelo prazer da ação bestial.
Não é do ser da caverna não, mas do homem do mundo novo que a valorização da vida se reduziu a nada. Ora, tanto faz matar um como cem de uma só vez. O que o terrorismo e o fundamentalismo fazem senão tratar a vida como algo sem qualquer significância? Passam a espada em inocentes como se estivessem brincando, fuzilam indefesos como se estivessem treinando para uma guerra maior.
É um tempo sem limitações humanas, mas quase sempre de forma negativa, temerosa, apavorante. A segurança pública profissionalizou-se, mas muito mais o bandido, o ladrão, o meliante de esquina. E a bandidagem nunca duvida sobre o que tem mais valor, se um objeto ou vida. Leva o objeto e deixa a pessoa sem vida.
O homem moderno não só está infinitamente mais violento como também mais covarde, passivo, submisso por desejo próprio. Ao menos no caso brasileiro, o que se tem é um povo que se compraz com o sofrimento, com a escravização aos ditames políticos e governamentais, com a avalização de tudo de ruim que lhe aconteça. Ora, reclama agora e amanhã já estará defendendo apaixonadamente os mesmos partidos e políticos.
Um tempo novo e de desaparecimento dos laços familiares, do respeito dos filhos para com os pais, do descaso destes para com os seus. Filho, dono do mundo e da vida, sequer diz aos pais por onde e com quem anda, o que faz ou o que evita fazer. Pais que não reconhecem os filhos, filhos que negam a existência dos pais. E assim tudo sucumbe no seio familiar.
E que tempo novo e de novidades. A cada dia o surgimento de uma nova droga e o aumento do número de viciados. Quarteirões inteiros tomados de drogados, traficantes e míseros usuários. E a vida acontecendo ao redor sem que nada daquela degradação de vida mereça uma ação enérgica das autoridades e poderes públicos. A preocupação sempre chega tardia, e apenas quando o problema já está dentro de casa.
Contudo, a constatação maior do caminho ao abismo é a passividade como o ser humano trata questões que o aflige e a toda população, bem como o seu sentimento de aceitação dos absurdos surgidos a cada dia. Ao aceitar o desandar de tudo, logicamente que jamais abrirá a boca ou dará um passo para lutar por algum direito ou contestar a tirania do mundo.
Eis o mundo novo. Novo e assustador. E que certamente será destruído pelo acúmulo incessante de novidades negativamente assimiladas por todos.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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