Rangel Alves da Costa*
A manchete na boca do povo e por todo lugar:
Jozailto Lima saiu do Cinform. A notícia grafada na surpresa e no espanto foi
tão retumbante quanto aquelas estampadas no semanário e que costumeiramente
faziam políticos estremecer ou suar frio debaixo da maquiagem. Dessa vez a
manchete é outra, silenciosa, de bastidor, apenas com uma porta se abrindo e o
grande jornalista saindo em busca de argila para moldar no barro o seu destino
daqui em diante.
E Jozailto Lima sabe moldar o barro com a
maestria dos grandes artesãos da vida, da escrita, da poética, do jornalismo
inteligente. Não fosse sua poética e sensibilidade teria sucumbido às ofensas e
transformado seu ofício numa arte mesquinha e de confrontos baratos. Mas não,
sempre procurou avistar os acontecimentos através do espelho da realidade, de
modo coerente e ético, e por isso mesmo conseguindo imprimir uma característica
atualmente rara de se fazer jornalismo: somente a verdade.
Baiano de Várzea de Poço, desde muito
radicado em Sergipe aonde chegou para fincar raiz, é ser humano que vai muito
além da fama surgida. Ele é assim mesmo, mas também diferente. O homem, quando
encontrado no seu estado de barro e de palavra, logo revela sua outra feição:
um jovem sonhador, inconformado com as mesmices da vida e do mundo, alguém que
se despoja do seu ofício de redação para ser o mais simples dos seres humanos.
E sempre falando sobre sua poesia e suas raízes avistadas em cada verso. Aí o
homem argila influenciado pela construção poética de Manoel de Barros.
Conheci Jozailto nos bancos acadêmicos e
muito mais nos proseados do dia a dia. E ele continuou exatamente como nos
tempos idos, amigueiro e brincalhão. Um dia chegou com um punhado de versos
debaixo do braço e logo montamos uma exposição. Num tempo sem as facilidades do
computador, eu caprichava no pincel atômico para que as letras ficassem
legíveis. Foi um sucesso. E merecidíssimo sucesso alcançaria depois, tanto como
poeta laureado, escritor de renome e jornalista consagrado. E assim continua em
pleno reconhecimento.
Mesmo já carregando na bagagem uma vasta
experiência no jornalismo, Jozailto teve que revirar mundo para vencer as dificuldades
impostas por alguns que se diziam defensores do legalismo jornalístico em
Sergipe. Estudava jornalismo apenas para oficializar o que já dominava com
arte. E por isso mesmo era seguido de longe para que não pudesse entrar em
qualquer redação. Quando entrou no Jornal de Sergipe, logo teve de sair por
força das perseguições. Sua escrita já despertava a ira de alguns.
Em setembro de 93, numa época em que o
Sindicato dos Jornalistas de Sergipe promovia ferrenha perseguição aos que
dizia se arvorar da profissão de jornalista sem a conclusão do curso de
Comunicação Social, Elenilton Pereira, atualmente diretor do Jornal do Dia, em
artigo intitulado A Ladainha da Perseguição, fazia uma defesa contundente do
colega de faculdade. E assim escreveu no Locus (publicação mensal do CESEP):
“No ano passado, Jozailto Lima - que encabeça
a nota como um dos "charlatães mais agressivos do momento" (sic) -
foi demitido do Jornal de Sergipe, depois que a entidade de classe acionou a
DRT. (...) Está provado que não importa onde, como e em que Jozailto Lima
trabalhe, seja carroceiro, faxineiro, vidraceiro, vendedor ambulante, assessor
parlamentar, adjunto de gabinete, não tem escapatória, o Sindicato dos Jornalistas
vai estar lá dizendo que ele não pode exercer a profissão. Que profissão? Na realidade
o único pecado de Jozailto Lima é saber escrever. (...) Jornalista registrado
na DRT da Bahia, trabalhou no Jornal Feira Hoje, ocupando a editoria de
política por 8 anos, correspondente da Tribuna da Bahia, tanto em Feira de
Santana como depois em Aracaju, produtor e editor de texto da TV Subaé. Aqui em
Sergipe, Jozailto começou como repórter do Jornal de Sergipe, chegando a Secretário
de Redação por um período dois anos. (..) Com 12 anos de profissão, Jozailto
Lima merecia, no mínimo, um tratamento melhor por parte daqueles que insistem
em persegui-lo”.
Mas Jozailto não soprou a mesma fogueira para
os seus inquisidores assim que obteve seu diploma nas terras sergipanas. As
perseguições talvez tivessem servido como preciosas lições e a partir daí
passou a mostrar que era jornalista por vocação e não por mera formação. E foi
alcançando uma importância tal que hoje em dia a imprensa sergipana deve-lhe
gratidão pela grandiosidade alcançada através de seu ofício.
Atualmente, o nome de Jozailto Lima ecoa com
justo reconhecimento por todo o estado de Sergipe, principalmente pelo trabalho
realizado à frente da editoria do Jornal Cinform, que agora deixa depois de 22
anos. Recolhi num texto escrito por ele e publicado nas redes sociais com o
título “Hora do adeus e da gratidão”, as seguintes palavras:
“No Cinform e pelo Cinform, maturei um nome
profissional. Fiz-me visível. Tenho uma razoável inserção e um considerável
respeito na vida de Sergipe – Estado que aprendi a amar e a respeitar desde a
primeira hora. Se tivesse que fazer tudo de novo, não mediria esforços: faria.
Acolho e cevo meus erros, que vêm muito da visceralidade de tudo o que faço. Da
minha passionalidade. Identicamente, acolho e cevo meus acertos”. E prossegue: “Quanto
a mim, seguirei o caminho do comunicador que tenho sido há exatos 32 anos. E,
feito a mulher de Ló, sem remorso de olhar para trás, uma vez que 22 anos não
se apagam com uma simples topada na pedra do adeus. Mas estejam certos de que
não me converterei numa estátua de sal”.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário