*Rangel Alves da Costa
Enquanto a maioria das pessoas vai
dispensando, jogando fora e rejeitando as velharias, tornei-me um colecionador
contumaz de coisas velhas. Hoje eu vivo quase como um catador de coisas velhas.
Não coisas velhas imprestáveis, molambentas, rasgadas, quebradas ou
imprestáveis ao uso, mas coisas velhas apenas no tempo, na idade, na perda da
feição modista. Minhas coisas velhas são aquelas esquecidas nos cantos,
abandonadas nos cantos, tidas já sem uso e trocadas pelo novo. Sou um caçador
de relíquias e antiguidades, sou um arqueólogo da história de um povo e de seu
passado, através de seus objetos de uso doméstico e tradicional. Interessam-me
as malas antigas, os baús antigos, as cristaleiras antigas, os camiseiros
antigos, os guarda-roupas, as chaleiras, os ferros de engomar, os rádios, as
radiolas, qualquer coisa que sirva para contar a história do povo do sertanejo.
Todo o encontrado, acaso possua a feição de relíquia, é logo cuidado e colocado
no Memorial Alcino Alves Costa, localizado em Poço Redondo, no sertão
sergipano. Minha busca incessante já produziu excelentes resultados, pois hoje
minhas coisas velhas servem como retratos e livros abertos ao conhecimento das
novas gerações, de pesquisadores e estudiosos, acerca de um passado que não
deve ser esquecido nos seus objetos e peças de usos domésticos. Por isso mesmo
que rejeito o novo e sempre vou atrás daquilo que realmente possa contar a
história do sertão e de seu povo.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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