*Rangel Alves da Costa
O bolo da
política é sempre mal repartido. Na maioria das vezes, nem dividido é, pois
sempre há quem se ache no direito de pegar o bolo para dividir e acaba
abocanhando tudo sozinho. Talvez seja pela cobertura atraente demais ou pelo
recheio apetitoso. A verdade é que uma vez com o bolo à mão, a ninguém mais
será dado o direito de também abocanhar um tiquinho. A gula interminável da
esperteza.
Assim
acontece, por exemplo, nas “ajudas” que os candidatos - erroneamente - repassam
àqueles que se dizem donos de votos. O candidato dá o bolo ao que se diz líder
político e responsável pela justa divisão, mas nunca se assegura que tal
compartilhamento, ou algo parecido com isso, vá ser feita mesmo. Quando se dá
conta já é tarde demais. O espertalhão abocanhou o doce sozinho e os demais
eleitores ficaram só chupando o dedo. E o dedo não foi lá na urna votar.
Em épocas
eleitorais como agora, eis que surgem verdadeiros enxames de líderes políticos,
com cada um pregando ter mais voto que o outro. Quem ganhou se arrastando para
vereador logo diz que tem mais que o triplo de votos. Quem não teve nem cem
votos, logo vende uma soma de mais de quinhentos votos. Até mesmo quem não
conta nem com os votos de casa, acaba se achando no direito de vender os votos
da rua inteira. Todos eles sempre asseguram de mãos entrecruzadas que o bondoso
candidato - pois já lhe recheou os bolsos - sairá dali com uma votação
estupenda, senão já eleito. Pura enganação.
O problema
é que o candidato acredita, pois aceita ser enganado e vai logo acertando
valores de mais “ajudas”. Caiu na lábia, acreditou que o povo presente naquele
almoço é seu cativo eleitor. Acreditou que o povo presente apenas para matar a
fome ali estava para lhe aplaudir e jurar seu voto na vida e na morte. Ainda
assim pouca atenção dá ao eleitor, pois sempre achando que tudo já está acertado
entre este e aquele de bolso já recheado. Assim, acreditando no mentiroso, ou
seja, na falsa liderança, acaba desvalorizando aquele que é mais importante
numa eleição: o eleitor, o simples eleitor, aquele de um voto só.
Tem um
voto só, mas é este que vota, e não o espertalhão que abocanhou a “ajuda”. O
que o espertalhão faz é o que a gente está vendo agora, ou seja, abocanhando
dinheiro pela mentira, pelo voto do outro que sequer sabe que foi vendido, e a
este não ajudando sequer com uma Melhoral. Quanto mais dinheiro é recebido em
nome do povo mais o povo é esquecido. Quanto mais coloca dinheiro no bolso mais
nega uma ajuda para comprar um remédio, para pagar uma conta de energia, para
qualquer coisa que surja numa hora de dificuldade.
Está cheio
de gente assim. Gente que pega dinheiro pelo voto do outro, mas depois banana
para o eleitor, para aquele que fez parte do acerto sem saber. Ou será que as
ditas lideranças políticas, tais como vereadores, prefeitos e outros, dão apoio
de graça aos candidatos? De jeito nenhum. Todos eles recebem pelo voto dos
outros. Quanto será que vale dois mil votos garantidos por um prefeito a um
candidato ou quinhentos votos prometidos por um vereador? Sempre vale alguma
coisa, e não é pouca coisa não.
Por mais
que a compra e a venda de votos sejam crimes perante a legislação eleitoral, o
que se tem é um mercado aberto. Político compra voto e político vende voto.
Candidato compra voto e o povo vende voto. A negociata nunca acabou. Só que o
candidato está comprando voto daquele que não tem os votos prometidos e
deixando de lado o próprio votante. O dinheiro vai para o bolso do espertalhão
e nada para aquele que não tem sequer um pão para o jantar. Não reclamaria se
recebesse o pão, mas o problema é que não recebe nada. Tudo fica no bolso do
político mercador.
Infelizmente,
ainda existe a velha política dos currais. Gente é tratada como bicho votante e
vendida apenas como parte da boiada. Até quando isso? Ora, até quando cada um
quiser. Basta dizer que não aceita que seu voto seja vendido por liderança
alguma, pois nem na dita liderança vota. E deixar isso bem claro: Não votar em
candidato daquele que se diz líder político, não votar em candidato de vereador
e não votar em candidato nem de prefeito nem de vice. Fazendo isso, depois
seria bom saber como eles vão justificar os votos garantidos e não conseguidos.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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