*Rangel Alves da Costa
SE EU FOSSE PREFEITO... Ora, se eu fosse
prefeito nem prefeito eu seria. Muito pouco ser chamado de gestor, de
administrador municipal, de prefeito, por isso mesmo que exigiria não somente
ser visto como rei, como poderoso, como o tal, mas também ser olhado e tratado
com reverência e medo. Medo sim, pois eu seria um prefeito mal-educado,
arrogante, distanciado principalmente de quem votou em mim. Quem não votou
seria meu inimigo mortal e que mereceria perseguição desde a primeira raiz.
Alguns do meu agrado eu escolheria para limpar os meus sapatos, para passar
lenço em minha baba, para abrir portas e se ajoelhar a qualquer hora que eu
mandasse, até sem que eu ordenasse. Já outros teriam a incumbência do fanatismo
e da paixonite aguda: defenderiam o meu nome acima de tudo, brigariam com tudo
e todos para dizer que fiz absolutamente certo quando agi errado, teriam a
incumbência de negar toda mácula que envolvesse o meu nome. Mas isso não
significaria ser bajulador ou puxa-saco, mas apenas falta de vergonha mesmo. E
muito mais eu faria se eu fosse prefeito. Povo, que povo? Povo que se dane.
Passaria pelas ruas apressadamente em carro de vidros fechados, daria ordens
para que ninguém pudesse me encontrar. Certamente que eu mandaria abrir um
túnel da prefeitura diretamente pra minha casa. Durante quatro anos seria
assim. Ademais, se muita gente faz assim por que eu não poderia fazer? Ser
prefeito é esquecer o passado, é recolher os braços e mãos um dia estendidos ao
eleitor idiota, é fazer de conta que nunca precisou de ninguém para se eleger,
é tirar onda da cara daquele que enfrentou fila para votar e acreditando que
alguma coisa pudesse mudar. Ser prefeito é fazer de conta que o tempo do
mandato é a vida inteira e por isso mesmo se acha dono não só da municipalidade
como do mundo. Ai se eu fosse prefeito. Mas Deus me livre!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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