*Rangel Alves da Costa
Em Poço Redondo, sertão sergipano, passando
pela Praça Eudócia, de repente ouvi uma vozinha me chamando. Olhei de lado e o
dono da voz, todo lindo e sorridente, bem sentado numa cadeira esverdeada e de
chupeta na boca, chamava-me como a um velho conhecido. Fui. Aproximei-me do
beiral da calçada, ele tirou o bico da boca e, sempre com feição alegre,
estendeu-me a mão e foi logo dizendo: “Bom dia, o meu nome é Joaquim, sou neto
de Maria de Bené. Nem todo mundo me conhece, mas todo mundo conhece minha avó
Maria de Bené. O seu nome é Rangel, não é? Sei que é por que pego o celular
escondido de minha mãe e vejo suas postagens...”. Que coisa mais interessante,
logo pensei. “Muito prazer Joaquim, nunca pensei que uma criancinha na sua
idade fosse tão inteligente. Estou encantado com suas palavras”. Então ele
prosseguiu: “O prazer é todo meu. Quer sentar? Sim, mas antes que eu esqueça,
foi bom lhe encontrar, pois tenho uma coisa a lhe dizer e quero que escreva
isso...”. Eu estava sem acreditar no que ouvia, então ansiosamente desejei que
ele prosseguisse. E o pequeno Joaquim prosseguiu: “Me diga uma coisa e fale a
verdade, quando eu crescer mais, quando eu estiver um rapaz de verdade, o que
vou ter de Poço Redondo? Amanhã, o que posso esperar de Poço Redondo, qual o
futuro que Poço Redondo trabalha agora para que as crianças de hoje encontrem
amanhã?”. A primeira resposta que encontrei foi: “Primeiro aprenda a rezar
Joaquim, primeiro aprenda a rezar!”. Saí entre alegre e entristecido, entre o
encantamento e a desolação. E Joaquim ficou avistando flores inexistentes no
jardim abandonado adiante.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário