*Rangel Alves da Costa
Talvez ninguém perceba, mas ando sangrando
por aí. Mesmo de sapato ou chinelo, os meus pés sempre estão descalços. E o
mais doloroso: pisando em espinhos. Não somente isso, pois sempre marcado na
pele pelas urtigas, cansanções, pontas de garranchos e surpresas afiadas que
surgem dos escondidos. Mas tenho que suportar, tenho que prosseguir, tenho que
viver, tenho que sorrir, pois prometido a um destino maior. Disso não há que
duvidar: prometido a um destino maior. E daí o sorriso enquanto dói, a palavra
enquanto a alma silencia, o contentamento enquanto o entristecimento azucrina
por dentro. Desvelando a simbologia: quem avista minha luta e o quanto tenho
conseguido vencer, sequer imagina o quanto é difícil seguir adiante entre
labirintos, serpentes e falsidades. Mas desistir nunca, deixar-me aberto às
feras jamais! Além disso, sou forçosamente envolvido por uma solidão sem
tamanho. Da porta pra fora, apenas alguns amigos. Outros que se dizem amigos,
apenas ficam olhando se vou tropeçar adiante. Amor compartilhado nenhum.
Ninguém para confiar um amor e ter a reciprocidade verdadeira. Tudo ilusão e
mentira. Um mundo de carnicentos e de um lobo uivando na solidão das estepes.
Ouço o meu próprio uivo. Desço da estepe noturna e novamente sigo pela estrada,
sempre pisando em espinhos. Já não agonizo tanto pelas feridas na pele e na
alma. Como dito, fui e sou prometido a um destino maior. Qual destino? Aquele
escrito por Deus e que somente é revelado e compreendido por aqueles que têm o
dom da compreensão. Não preciso dizer muito sobre isso: o que faço possui um
propósito sagrado. E o que faço justifica a minha existência e me dá a certeza
de que os espinhos afiados são um nada perante o destino a mim resguardado. Os
lobos passam, mordem-se a si mesmos e se destroem a si mesmos. Eu continuo em
busca de minha montanha, e para lá do alto dizer de braços abertos: Deus jamais
me abandonou!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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