SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 4 de agosto de 2018

Palavra Solta – cabaré



*Rangel Alves da Costa


Tudo se modernizou demais, até mesmo os cabarés. Coisa muito mais interiorana, mas é sempre bom recordar dos bregas nos escondidos, das casas das luzes vermelhas, dos bordéis de beira de estrada, dos cabarés matutos. Sem suntuosidade arquitetônica, apenas uma casa acanhada de portas abertas. Lá dentro a vitrola apaixonada, a radiola em breguice desenfreada, o som de cortar coração para o deleite dos bêbados e das prostitutas. Ambiente escurecido, um tanto misterioso, cheirando a limão, a cachaça e a perfume barato. Sem falar nas podridões encardidas dos sexos descuidados e dos quartos e lençóis tingidos de impurezas. Mesinhas espalhadas pelos cantos. Numa, a velha prostituta vira o resto de rum entre lágrimas e saudades. Noutra, a balofa vai acertando os últimos detalhes para o namoro. Dois contos, cinco contos. E ainda noutra a mocinha envelhecida implora uma aguardente. Lábios vermelhos, olhos vermelhos, rostos vermelhos, tudo vermelho. Noite após noite e assim. Sexos encardidos, perfumes nauseantes, bebida barata, prazeres venais de pouco valor. Vidas de pouco valor. Noites de tormento e dor.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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