*Rangel Alves da Costa
Imagino
que há coisas muito mais interessantes que a política, políticos, paixões
partidárias e fanatismos. Ideologias, alienações e fundamentalismos só servem
aos que disto tiram proveito, e jamais aos que matam e morrem por
partidarismos.
Não me
distancio de tais questões, mas também não quero perder meu tempo em debates e
discussões onde cada um só defende o seu imprestável preferido. Também não
adiantaria discutir. As paixões são tão doentias que tudo resulta em tempo
perdido.
Creio que
existem coisas muito mais interessantes que precisam de atenção. Mesmo perante
as agruras do mundo e as feridas abertas da realidade, há sempre uma fuga onde
seja possível encontrar o que se possa chamar de vida.
Por isso
mesmo que prefiro vivenciar retratos do meu sertão, a sentir e usufruir
espiritualmente as imagens do meu sertão, a me envolver em discussões
intermináveis sobre quais candidatos são piores ou melhores ou mesmo postar imagens
daquilo que nada tem a ver com minha realidade.
Sim,
ninguém vive sem a política, ninguém pode fugir de políticos, pois o próprio
contexto social já é essencialmente político. Infelizmente tudo gira em torna
da política, e tanto a política partidária como tudo aquilo que envolve a
sobrevivência. Todo aumento de imposto ou de remédio, por exemplo, é um ato
político.
A política
está na sobrevivência e na própria existência de cada um. As ações políticas
governamentais, as políticas públicas, as políticas de inclusão, as políticas sociais
e econômicas. Nem sempre dão resultados, mas sempre estão na pauta de cada dia.
O que mais
enoja, contudo, é a política partidária. Em tal contexto, a política profissional
como expressão maior da hipocrisia, da demagogia, do engodo, da mentira, da
improbidade, da ilicitude, da corrupção. Não há, pois, nada mais nojenta que a
política partidária.
Contudo,
que os abutres comam as carniças e os beija-flores voem pelos jardins. Que as
aves agourentas piem os seus presságios e os madrigais ecoem os cantos
passarinheiros. Que os espinhos despontem e as flores se sobressaíam às dores.
Prefiro ser sertanejo a ser simplesmente eleitor.
Ainda
prefiro encantar-me com as coisas simples a espantar-me com o já negativamente
conhecido. Tenho olhares para tudo, mas olho ao que me agrada. Meu olha não
busca o que deprime, enoja, ludibria. Meu olho busca a luz, a espiritualidade,
a plangência da vida.
Enquanto
vocês discutem política eu prefiro admirar-me com um retrato tipicamente
sertanejo, com uma cena emoldurada na religiosidade de um povo. Uma estrada de
chão e na estrada um povo em procissão. Uma imagem santa sendo levada em cima
de um carro-de-bois e um povo caminhante extasiado pela fé e abnegação.
O que move
um povo a agir assim, a colocar uma imagem santa sobre um carro-de-bois e sair
pela estrada em cantos de devoção? O cumprimento de um destino de fé, apenas.
Fé que faz curar, fé que faz chover, fez que traz esperança, fé que abre portas
e caminhos, fé que alegra o coração e o fortalece para os duros embates da vida
no mundo-sertão.
Prefiro,
pois, tais fotografias a mil santinhos de candidatos. Todos estes, por serem
imprestáveis, logo passarão. Os retratos do meu sertão jamais. Os retratos do
meu sertão se eternizam como o próprio sertão. Tudo passa, tudo muda, mas sua
raiz ainda fincada debaixo do sol e da lua.
E um povo
que sai cortando estradas em procissão, debaixo do sol e pelo simples prazer da
devoção. Não há uma gente devotada assim em nenhum outro lugar. Apenas no
sertão. No meu sertão.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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