*Rangel Alves da Costa
Quando
passou um pedinte e depois mais outro, mais outro e mais outro, sempre cada vez
mais famintos e magros, então eu temi pelo destino dos homens.
Quando
minha avó deixou de me fazer cafuné e meu avô deixou de contar histórias do
outro mundo, e tudo entristeceu pela casa, então eu aprendi que a velhice
florescia demais.
Quando a
criancice se despediu, a meninice foi embora e a adolescência sumiu, então eu
resolvi parar de crescer e voltar a ser o que ainda estava presente dentro de
mim.
Quando a
nuvem não veio, a chuva não veio, o pingo d’água não veio, e tudo murchou e
tudo secou, então cavei mais o barro do chão até surgir um veio de esperança.
Quando eu
esperei a primavera e chegou o outono, e no lugar das flores apenas a secura da
solidão e a tristeza do silêncio, então molhei mais meu jardim e fiquei
esperando.
Quando
pedi que ela segurasse minha mão para seguir pela estrada e ela negou minha
proteção, então sozinho segui até ouvir o seu grito aflito desejando a mim.
Quando
cansei pela estrada e não encontrei nenhum sombreado e nenhuma guarita para
descansar, então caminhei mais ainda em busca do meu destino.
Quando
procurei a igreja e a encontrei de portas fechadas e procurei um altar e nada
encontrei que fosse santificado, então abri as portas do templo do meu coração
e orei.
Quando minha
vela de oração começou a se apagar antes do tempo e a minha oração era
esquecida antes do fim, então me ajoelhei e abaixei a cabeça para reencontrar a
minha fé.
Quando fui
jogado às feras, fui lançado aos lobos, fui arremessado às peçonhentas
serpentes, então esperei sobreviver e espantar as feras, os lobos e as
serpentes, de toda estrada.
Quando eu
amei e por esse amor me vi na ilusão de uma felicidade inexistente, pois amante
e desamado, então preferi sofrer na solidão até que o sorriso chegasse ao meu
coração.
Quando
abri a panela e nada encontrei de comida, revirei a despensa e nada encontrei
para matar a fome, então abri a porta para catar os grãos da sobrevivência.
Quando
bati à porta e ela não se abriu e chamei à janela e ela continuou bem fechada,
então sentei do lado de fora e esperei as coisas acontecerem.
Quando me
tomaram as vestes e lanharam minha pele, depois me jogaram ao relento e ao
frio, então simplesmente esperei o sol chegar.
Quando me
forçaram a ir até a beira do abismo e lá me empurraram beiral abaixo, então eu
abri minhas asas para voar.
Quando
levantaram a arma e apontaram o cano sangrento em minha direção, então eu,
mesmo de peito aberto, levantei meu escudo de proteção.
Quando
soltaram palavras de aleivosia e sobre a minha pessoa lançaram as desonras do
mundo, então eu silencie por saber de onde chegariam as respostas.
Quando me
dizem que tudo é assim mesmo, que tudo deve assim acontecer, então simplesmente
peço que leiam o Eclesiastes: nada é assim mesmo!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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