*Rangel Alves da Costa
E o vento me levou... Tenho certeza que sim.
Não estou aqui, não estou em mim, não sei onde estou. Tudo outono, tudo
ressequido, tudo tão esmaecida, sem vida, sem vontade de nada. Dias existem que
são assim. E hoje está um dia assim, de folhas secas e de solidão, de folhas
soltas e desolação, de folhas murchas e de aflição. Já não tenho espelho, mas
sei do meu olhar tristonho, de minha feição melancólica, do meu lábio trêmulo.
Amante desamado, naufragado num mar de desesperanças. Aquele que fui já não sou.
Sim, o vento me levou. Sem destino certo, apenas uma folha pelo ar, quem sabe
se n’alguma janela estará o meu destino. Ou quem sabe se apenas uma queda entre
as solidões mortas de chãos vazios e tristes desse outono de vida. Não, precisa
mais soprar sobre mim sua palavra rancorosa nem seu adeus odioso. Vivemos
primaveras demais. Tudo acaba. E chegam os outonos e as tristezas das folhas
secas sendo levadas. Assim como sigo agora, assim como estou agora, na mudez
desalentada dos que lacrimejam por si cima por cima de suas próprias folhas
secas.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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