Rangel Alves da Costa*
O que somos? Na soma do que somos e do que queríamos ser, diminuindo o que nunca seremos, somos o que?
Somos mais ou somos menos, na passividade de ser ou não ser? Ou somos à medida do que merecemos, ainda que sejamos menos do que mereceríamos ser?
Somos apenas ou talvez, ou certeza e definição? Ou somos o apenas começado, esperando a conclusão assim que possamos ser o que ainda não somos?
Somos nós mesmos ou o que os outros imaginam ou dizem? Ou somos o que eles imaginam e dizem e também o que os outros não precisam saber, e é aquilo que verdadeiramente somos?
Somos a face ou o espelho, a luz ou a sombra, o que se mostra ou o que se esconde? Ou somos frente e verso, dependendo daquilo que queiramos ser?
Somos mais o presente ou mais o passado, e querendo já ser agora o futuro? Ou somos de tudo um pouco, no reviver o passado e no conviver o presente?
Somos a fé ou a descrença, a religião ou a seita, o crente ou o ateu, o temente ou o pecador? Ou somos apenas nós mesmos, sem religião que nos conduza, com a certeza que somos a divindade?
Muitas vezes, o que somos é um descontentamento de nós mesmos, uma insatisfação permanente das impossibilidades do ser, uma eterna revolta egocêntrica, fazendo da busca da impossível perfeição a justificativa para a vaidade, o orgulho, a soberba e a arrogância.
Muitas vezes, renegamos o que somos e forçamos a existência de um ser que será tudo, menos ser o que somos, eis que toda transformação pressupõe primeiro a aceitação de como somos para, somente depois, buscarmos o aprimoramento de como queremos ser.
E somos tão completos mesmo não sendo o ser que sonhamos ser, que aquilo que não nos reconhecemos será reconhecido por outros, numa completa significação de tudo o que somos. Assim, mesmo que não nos sejamos a nós mesmos, seremos sempre perante outros que nos valorizam naquilo que não nos reconhecemos.
E somos tão infinitamente nós mesmos, em ser o que somos mesmos não aceitando ser, que não precisamos de outro ser para fazer ou realizar por nós aquilo que desejamos. Por sermos como espelhos do que somos, não cabe nas nossas vidas outro reflexo senão daquilo que teremos de enfrentar em nós mesmos.
Somos diferentes porque somos iguais somente ao que somos, a nós mesmos. Por isso somos, além do que compreendemos ser, também um número, um nome, um sobrenome, um registro, um peso, um jeito próprio de ser em meio a outras existências.
Somos únicos e não nos cabe dividir, colocar de um lado o que nos reconhecemos ser e de outro o que pretendemos. Toda transformação, para diminuir ou somar, somente será possível a partir do nosso único e indivisível ser. A cada um caberá ofício de buscar a transformação que achar melhor para sua vida.
E não somos nem mais nem menos, vez que apenas somos. Mas também seremos mais ou menos se assim desejarmos. Poderá haver o esquecimento, mas não o desconhecimento do que fomos; poderá haver a não aceitação, porém não renúncia do que somos; e do reflexo do passado e do presente, poderemos planejar ser o que desejamos. E assim seremos.
Eis a razão do ser em Freud: Não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais; somos também, o que lembramos e aquilo de que nos esquecemos; somos as palavras que trocamos, os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos, sem querer.
Segundo o pensamento budista, “O que somos hoje e o que seremos amanhã depende de nossos pensamentos. Se procedo mal, sofro as conseqüências; se procedo bem, eu mesmo me purifico”.
E digo: Somos o que somos, mas não apenas como somos. É do nosso instinto a transformação. E o que seremos virá por consequência do que somos agora.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
meu abraços pelo espaço lamarque
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