Rangel Alves da Costa*
Que me desculpem se penso diferente, se
constato realidades além da conta ou se imagino e digo coisas sem pé nem
cabeça. Vejo com a mesma visão do outro, ouço como a mesma nitidez que todo
mundo, mas reconheço que minhas conclusões não são unânimes perante as análises
dos demais. Por isso mesmo é que peço desculpa se estou vendo além do possível
e concluindo aquilo que não tem nenhuma razão de ser. Mas tenho que expressar o
que penso.
Um país é formado por pessoas de todas as
raças e matizes, de todas as crenças e classes sociais, e todo o poder deve ser
exercido em nome desse mesmo povo, indistintamente, de modo a assegurar-lhe
justiça social, educação e saúde, dentre outros fatores. Não deve o governante
garantir a preservação de seu poder privilegiando apenas uma parcela da
população, principalmente aquela mais fácil de ser domada e mantida escravizada
às aspirações políticas.
Atitudes assim, quando o governante opta pela
priorização de políticas com fins eleitoreiros e despreza outros setores
sociais que vivem reféns da ineficácia governamental em setores básicos, acabam
provocando indignações e rejeições perante a sua figura, de modo pessoal. E as
vaias e palavras de ordem lançadas diante do governante são os primeiros
sintomas da descrença e da rejeição dessa grande parcela da população. E quando
as reações se avolumam e se expandem nada de proveitoso se deve esperar.
Não precisa ser cientista social para saber
que alguns sintomas servem como demonstração do enfraquecimento de um
governante. Desde as críticas mais acentuadas à perseguição aos insurgentes,
tudo revela que nada anda bem num reino. E quando o poderoso começa a ser
vaiado em público, então os sinais começam a ser ainda mais reveladores. E mais
contundentes ainda quando este começa a temer as vaias do povo e tudo faz para
dele se distanciar.
É bem assim que está acontecendo no Brasil e
com sua presidente. As aparições públicas são de tal modo controladas que a
elas somente têm acesso aqueles dispostos a aplaudi-la ou que não esbocem
qualquer reação diante dos rosários de promessas impraticáveis. E os assessores
e seguranças sabem muito bem onde estão as pessoas que aplaudem e as que
apupam. Enquanto a região nordestina é um celeiro de aplausos, o sul do país se
torna um verdadeiro temor para a presidente.
E a presidente brasileira vem conseguindo
atrair para si um coro de vaias jamais visto na história brasileira. Na
abertura da Copa das Confederações em 2013, os torcedores da capital da
república fizeram estremecer os seus ouvidos. E naquele instante a presidente,
certamente atordoada, talvez tenha se perguntado o porquê daquela sonoridade
tão negativa se ela é a mãezona desse Brasil tão eficiente em todos os setores.
A partir de então resolveu fazer de conta que povo não existe. E não aparece
mais diante de multidões de jeito nenhum.
Neste dia 12, data da abertura da Copa do Mundo
de futebol, a presidente ponderou até mesmo se seria viável sua ida até o
Itaquerão. Estremeceu só em pensar. Discursar de jeito nenhum, que Deus a
livrasse de uma vergonha tão grande em ano de eleição. Foi ao estádio e
permaneceu escondidinha num local cercado por brutamontes. Mas não houve jeito,
pois bastou que uma câmara a encontrasse e mostrasse seu sorriso amarelo num
telão que as vaias ecoaram.
Mas a verdade é que não consigo imaginar
alguém fugir do povo como o diabo da cruz e ainda assim desejar que esse mesmo
povo a acolha nas suas pretensões de reeleição. Do mesmo modo, não consigo
imaginar que essa candidata tenha como certa sua vitória quando sequer pode
aparecer diante de torcedores sob pena de ser retumbantemente vaiada. E o
correto é reconhecer que as vaias são como os vermes em cima do queijo: por
dentro já está imprestável, apodrecido, putrefato.
É realmente difícil acreditar que a
presidente e candidata à reeleição seja tão hostilizada e ainda assim continue
no patamar das pesquisas, com possibilidade de sair vitoriosa ainda no primeiro
turno. Alguma coisa deve estar muito errada. Logicamente que as vaias e
xingamentos partem de regiões onde não possui massificante expressão eleitoral,
mas se torna ainda mais preocupante porque vem de uma população supostamente
mais esclarecida, mais alfabetizada e com maior consciência crítica.
Não acredito - e por isso preciso de máximo
convencimento - que uma pessoa sem respaldo popular nos principais centros
urbanos e nas mais influentes regiões do país, que não pode discursar perante
as massas e se cerca de inúmeros seguranças todas as vezes que precise se apresentar
diante do povo, realmente se mostre com capacidade para continuar sendo
representante máxima desse mesmo povo.
Certa feita, nas lonjuras da história, um
poderoso governante mandou costurar a boca de todos aqueles que ousaram vaiar
suas demagogias num discurso público. As bocas foram realmente costuradas, mas
o governante esqueceu-se de também mandar arrancar-lhes as mãos. E nas mãos
estava o poder do voto.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
Rangel, não duvido de mais nada - por aqui, onde moro, e mora também um presidenciável, existe uma prática muito comum - palma-paga; não seria a vaia-paga um desdobramento? É só uma suposição. Bela página, Rangel.
Postar um comentário