*Rangel Alves da Costa
Já passado da meia-noite deste sábado no
sertão sergipano. Inicia-se o domingo com uma temperatura de 18 graus. Um clima
de tal frieza na região sertaneja é realmente de espantar, principalmente com
relação aos anos passados, onde a população já não sentia qualquer mudança
climática.
Com efeito, desde muito tempo que não era
sentida qualquer mudança significativa na temperatura a partir do mês de junho,
porta aberta para o inverno nordestino, e este considerado o período mais frio
do ano. Mas este ano a frieza chegou mais cedo e com muito mais força.
Desprevenidas, as pessoas se enrolam em casacos e cobertores como podem.
É tanto frio que as ruas ficam desertas, as
portas são fechadas logo ao anoitecer, as conversas de calçadas sumiram de vez,
apenas a frieza vagando por todo lugar. Somente os bares e botequins permanecem
em noturnas vivacidades, vez que é na pinga, na cachaça ou numa bebida
qualquer, que o sertanejo procura se esquentar.
Na madrugada de ontem, em Poço Redondo,
cidade sertaneja acostumada a assinalar quase 30 graus mesmo no período
noturno, o termômetro marcava nada mais que 17 graus. Para o sertanejo
acostumado ao calor, ao suor a qualquer hora do dia, chegar a essa frieza é
quase como coisa do outro mundo.
E com a intensa frieza, as desproteção de
pessoas carentes, de crianças e até de animais. Os resfriados tomam desde os
mais novos aos mais velhos, não há uma só casa onde não se reclame de doenças
advindas com as mudanças na temperatura. Como se diz pela região sertaneja, as
doenças ficam mais doentes quando a frieza vai congelando o corpo. E é um frio
de congelar mesmo.
O problema é que a tendência é que o frio vá
num crescente até o mês de agosto, para em setembro já elevar um pouco mais a
temperatura. E acaso se confirme o aumento do frio, então se estará perante uma
situação difícil de suportada, vez que o sertanejo sempre esteve preparado para
o calor e não para o frio. Anda nu da cintura pra cima e não recoberto de panos
grossos.
Nos dias atuais, onde as mudanças climáticas
aliadas à devastação da natureza pelas mãos humanas tornaram impossíveis de se
ter um ciclo normal de estações, chega até surpreender que o frio tenha reaparecido
no tempo certo, ao menos na região sertaneja do Nordeste. Não só reaparecido
como em sopro devastador, situação em que, muitas vezes, nem o sol surgido faz
a sensação de frieza diminuir.
Mesmo em tempo de longa estiagem, a região
nordestina sempre foi frienta a partir do mês de junho e indo até setembro.
Contudo, num período de estações definidas, aonde o inverno chegava com suas
características e o verão vinha com outra feição. Mas tudo foi sendo modificado
a cada passo. E de repente se tornou até difícil de saber se é outono ou
primavera.
O calendário marca, não nega. Mas somente na
teoria astronômica e climatológica, pois no demais uma estação entra na outra
sem apresentar diferença alguma. Mas fato é que este ano as chuvas chegaram
fortes, intensas, contínuas. E desde mais de cinco anos que não chovia tanto
pelos sertões nordestinos. Com as estiagens e o calor sendo forçados a ir
embora, então o frio tomou seu lugar de vez.
Até setembro, ninguém sabe o que vai ser daqui
em diante com relação ao frio. Noutros anos, ou num passado mais distante, havia
relatos até de neblina em pleno sertão. Os tempos mudaram, o homem desorganizou
o ciclo climático, tudo pode acontecer a qualquer momento. Mas talvez a frieza
de agora sirva como exemplo de que quem comanda as forças da natureza ainda é a
própria natureza, e não o homem. E de repente onde havia seca se mostre tomado
pela nevasca.
O que se tem agora é um frio de lascar que
nem cachaça dá jeito. E amanhã, quem sabe, grandes fogueiras acesas na porta de
cada um.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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