*Rangel Alves da Costa
Dona Mariá, originária da família Feitosa,
uma das mais numerosas e ilustres de Poço Redondo, é uma das mais respeitadas e
queridas mulheres nascidas na terra das beiradas do Jacaré. Ainda entre nós,
graças a Deus, já faz algum tempo que se mudou do centro da cidade, na Rua
Prefeito João Rodrigues, para a Avenida Alcino Alves Costa, indo morar com sua
filha Neide. Talvez a idade avançada e a aflitiva solidão, tenham afastado
Mariá dos olhos de todos aqueles que passavam pelas proximidades da Câmara de
Vereadores e da Praça Eudócia. Ela não é mais avistada na sua calçada nem porta
adentro, mas é como se ali permanecesse na memória de tantos. Sim, eis que
Mariá é mulher que carrega em si um mundo de histórias sertanejas. Na sua luta
incessante pela sobrevivência, um dia foi desde lavadeira a muitos outros
ofícios, juntando pedaços de ganhos para o pão de cada dia. Sempre morando no
centro da cidade, ladeada de novos e velhos amigos, porém teve de suportar a
perda de filhos e viu sua solidão aumentar pelas ausências forçadas pelo
destino. Sobre ela há uma história bastante interessante e que merece ser
recontada. Nos anos 70, quando uma caravana de cantadores e sanfoneiros estava
em Poço Redondo para uma apresentação (Clemilda, Gérson Filho, João do Pife,
Messias Holanda, Pedro Sertanejo, Marinês, Elino Julião e muitos outros), o
então prefeito Alcino Alves Costa passeava ao lado de Messias Holanda, quando o
sanfoneiro achou interessante uma mulher passando com uma trouxa de roupas para
lavar na cabeça. Então Alcino, sempre amigo da sertaneja, chamou Mariá e a
apresentou ao artista e compositor. E não demorou muito para surgir um grande
sucesso: “Pra onde vai com essa trouxona de roupa Mariá, na cacimba só tem água
pra beber. Pouca água deixa a roupa mal lavada Mariá. Lavar roupa também tem o
que aprender. Bota pouco pano nessa trouxa Mariá, nesse tempo não tem água pra
gastar, leve a colcha, eu preciso dessa colcha, abra a trouxa, bote a colcha,
leve a colcha pra lavar...”. Atualmente, ao entardecer, Mariá é sempre avistada
na calçada de sua filha, silenciosa, pensativa. Um passado, vidas e vidas em
sua memória.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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